Pesquisadores da USP fizeram o monitoramento do cérebro humano na fase aguda da doença e avaliaram as sequelas neurológicas sem a necessidade de intervenções cirúrgicas
Pacientes com Covid-19 em estado grave, que exigem suporte ventilatório, podem apresentar quadros de disfunção e comprometimento das estruturas do cérebro. As manifestações neurológicas são decorrentes de lesões por mecanismos diversos, porém os eventos cerebrovasculares são predominantes. Para estudar essas questões, cientistas brasileiros liderados pelo médico neurocirurgião Sérgio Brasil, da Universidade de São Paulo (USP), utilizaram uma tecnologia de monitoramento não invasivo do cérebro para o estudo piloto Hemodinâmica cerebral e comprometimento da complacência intracraniana em pacientes criticamente enfermos com COVID-19, publicado em junho no periódico suíço Brain Sciences, da Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI).
“O interior do crânio é composto de três elementos: tecido cerebral, sangue e líquor. A pressão intracraniana é o resultado das interações entre os volumes desses elementos, e seu equilíbrio é fundamental para a saúde, é o que chamamos de complacência intracraniana. A hemodinâmica cerebral, por sua vez, refere-se à análise completa da dinâmica do fluxo sanguíneo que é direcionado para o cérebro. A doença respiratória aguda grave é sabidamente uma condição com potencial para comprometer os mecanismos de proteção cerebrais, deixando o cérebro à sua própria sorte durante o transcurso do tratamento desta doença, o qual habitualmente é longo. Os desajustes da circulação cerebral podem provocar consequentemente, elevação da pressão intracraniana. Uma vez que muitos pacientes acometidos por Covid-19 apresentam sintomas neurológicos, faz sentido realizar o monitoramento da pressão intracraniana. No entanto, a menos que o dano estrutural com efeito de massa seja documentado em imagens do cérebro, não há indicação para utilizar o monitoramento invasivo em pacientes com Covid-19, uma vez que pode causar dano neurológico secundário”, ressalta Sérgio.
Para resolver esta equação, os pesquisadores utilizaram a tecnologia brain4care na qual um sensor encostado na cabeça do paciente, com ajuda de uma faixa, captava movimentos sutis por meio de um dispositivo (computador, tablet ou celular) com acesso à internet e os enviava à nuvem. Um algoritmo transformou os dados em curvas que refletiram o estado da complacência do cérebro, tudo em tempo real, para interpretação e acompanhamento da equipe médica.
“É muito importante entender as consequências da Covid-19 no cérebro humano na fase aguda da doença e, também, as sequelas neurológicas que têm sido observadas nos pacientes que se recuperaram. A possibilidade do monitoramento não invasivo do cérebro é útil para captar, por fora, sutis deformações na caixa craniana. Até então, o monitoramento estava limitado às soluções invasivas disponíveis, como a inserção cirúrgica de um cateter no cérebro do paciente”, explica o pesquisador.
A pesquisa avaliou pacientes com Covid-19 grave, ventilados mecanicamente em seis unidades de terapia intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Foram admitidas 50 pessoas no estudo, no período das 72 primeiras horas de internação. Os resultados das mensurações da complacência intracraniana pelo sistema brain4care eram combinados aos resultados das avaliações da hemodinâmica encefálica com ultrassom (Doppler transcraniano), encontrando alto poder destas avaliações em predizer quais pacientes conseguiriam ou não evoluir para ventilação espontânea e independente em até sete dias após estas. Pacientes sem, ou com mínimas alterações nos resultados destas avaliações apresentaram melhores resultados clínicos.
Os achados apontam para a necessidade de investigações mais aprofundadas sobre a importância do neuromonitoramento para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas que impactem positivamente o resultado de pacientes críticos.
Sobre a brain4care
Com o propósito de desafiar os limites da medicina para vivenciar histórias de saúde e felicidade, a brain4care é uma healthtech brasileira de impacto global que desenvolve e oferta a tecnologia pioneira de monitoramento não invasivo das variações de volume/pressão dentro do crânio, também conhecida como complacência intracraniana (CIC). Sua missão é reduzir a dor e o sofrimento de milhões de pessoas estabelecendo um novo sinal vital, acessível a todos, em qualquer lugar, sempre que for preciso.
Escolhida globalmente pela Singularity University para ser acelerada em 2017, a tecnologia brain4care oferece acesso universal à CIC, um indicador de saúde neurológica cujo comprometimento leva à disfunção cerebral, que é a primeira causa de invalidez e a segunda de mortes no mundo*. Em um contexto multimodal, permite que médicos e equipes melhorem a pertinência nos cuidados e a segurança do paciente, fornecendo informações adicionais que qualificam o diagnóstico, orientam a terapêutica e indicam a evolução dos distúrbios neurológicos.
Certificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disponível comercialmente no Brasil desde 2019, a tecnologia está presente em 14 instituições de saúde em todo país. No Brasil, a healthtech conta com escritórios em São Paulo e São Carlos, e nos Estados Unidos, em Atlanta.
Informações: https://brain4.care/
(*) The global burden of neurological disorders – The Lancet Neurology
Link para o estudo completo: https://www.mdpi.com/2076-3425/11/7/874
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