Médica orienta sobre os sinais de que alguém pode estar com depressão ou tendo um pensamento suicida e como ajudar
Angústia, incerteza, solidão, medo e a dor da perda são sentimentos que podem ser potencializados em meio a pandemia e que acendem um sinal de alerta para a necessidade de cuidados com a saúde mental. A psiquiatra geral e da infância e adolescência, Marina Carvalho, que atende no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Viva Vida, da rede municipal de saúde de Volta Redonda, fala sobre os sinais de que alguém pode estar com depressão ou tendo um pensamento suicida e de que forma abordar para ajudar.
– O que é o Setembro Amarelo?
O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a importância da prevenção ao suicídio com objetivo de alertar a população sobre a realidade do suicídio do mundo e suas formas de prevenção. Esta campanha é importante para darmos visibilidade maior para uma questão de saúde pública que ocorre durante todo o ano.
Em Volta Redonda, a prefeitura, através da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), iniciou as ações em alusão à campanha na terça-feira, dia 8, quando passou a disponibilizar atendimento sem agendamento nos Caps. Também foi retomado o atendimento psicológico gratuito por telefone para a população, através do número (24) 99315-0975, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, que conta com sigilo e privacidade, oferecendo escuta qualificada, acolhimento, psicoeducação e as orientações que se fizerem necessárias para cada caso abordado.
A população que sofre de algum transtorno psíquico também já pode contar com um serviço de acupuntura que pode ser agendado pelo telefone (24) 3339-4271. Também faremos, no dia 24 de setembro, uma capacitação para os profissionais da Saúde por meio de um webinar (seminário online), onde serão abordados os temas ‘Manejo de paciente suicida na atenção primária’, com a médica Beatriz Novaes da Silva Camargo, e ‘Atuação do enfermeiro de emergência ao tentante’, com o enfermeiro e professor Wesley Pinto da Silva.
– Qual é o papel do profissional da saúde mental?
O papel do profissional de saúde mental na campanha é conscientizar, esclarecer, orientar e acolher todas as demandas necessárias a esta e a todas as outras questões envolvendo a saúde mental do indivíduo e de seus familiares.
– Qual é o índice de suicídio no Brasil e no mundo?
São em torno de 800 mil suicídios no mundo, o que significa um suicídio a cada 40 segundos e uma tentativa a cada três. No Brasil, os números giram em torno de 12 mil mortes por ano, sendo um suicídio a cada 45 minutos. Nesse mesmo período acontece cerca de 10 a 20 tentativas de suicídios.
– Quais são os sintomas de uma pessoa com depressão?
É importante quebrar tabus sobre o tema que vive em constante crescente. Não há uma “receita” para detectar de forma segura quando o indivíduo está em sofrimento, porém as pessoas dão sinais que podem chamar atenção de familiares e amigos. Deve-se prestar atenção em episódios de falta de esperança, falta de perspectiva da própria vida e de suas atitudes, alterações de humor e sono, isolamento e dizeres como “vou desaparecer”, “queria dormir e nunca mais acordar” e outros dizeres que tenham a mesma linha de pensamento.
– Como lidar com uma pessoa com depressão?
A pessoa que convive com um indivíduo diagnosticado com depressão necessita também de um acompanhamento psicológico. Pois vive-se uma demanda emocional grande e, para administrar e poder ajudar verdadeiramente quem está adoecido, é necessário um equilíbrio emocional.
– Os números de casos depressivos aumentaram durante a pandemia? Como podemos lidar com isso?
Para lidar com o aumento de casos de transtornos psíquicos no período da pandemia é importante ter autocuidado com a saúde mental. Para que possamos lidar com o adoecimento de outra pessoa precisamos estar bem. Mantenha momentos que lhe tragam prazer, bem-estar e mantenha sono de qualidade. Caso tenha alguma dúvida ou dificuldade, procure os dispositivos de saúde para que você possa ser orientado.
– Como deve ser essa abordagem com alguém que pensa sobre suicídio?
Sobre a abordagem a pessoa que está em sofrimento psíquico e imagina-se a possibilidade de suicídio, é importante ter, principalmente, empatia e respeito. A forma da abordagem varia de acordo com o vínculo afetivo que se tem com a pessoa adoecida.
– Como podemos ajudar uma pessoa que está pensando em suicídio?
É importante promover estratégias de prevenção ao suicídio, pois é possível evitá-lo. O suicídio é premeditado e os sinais de alerta, por vezes, são visíveis. O atendimento nesses casos é realizado no CAPS mais próximo da residência da pessoa. Lá ela será avaliada por uma equipe especializada.
Volta Redonda dispõe de profissionais capacitados à orientação dentro do setor de Saúde Mental, que pertence a média complexidade do município. Atualmente o município possui cinco CAPS, sendo três deles destinados ao atendimento de adultos, um infantil e um para dependentes de álcool e outras drogas. Cada um deles conta com uma equipe multidisciplinar composta por assistente social, psicólogo, técnico de enfermagem, enfermeiro, terapeuta ocupacional, educador físico, psiquiatra e médico clínico. Nos espaços, que funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, acontecem oficinas terapeutas, como música, artesanato, higiene, saúde e jogos.
Os pacientes contam ainda com o Espaço de Cuidado em Saúde José Salvino de Paiva Oliveira, que presta atendimento aos usuários da rede de atenção à Saúde Mental que sofrem com questões emocionais/psiquiátricas de baixa ou média complexidade.
– Como abordar o assunto caso a pessoa seja adolescente?
O vínculo é sempre muito importante para dar ao adolescente a oportunidade de verbalizar o que ele sente, vivendo os conflitos característicos da própria idade, abordando o assunto de forma sincera. O importante é falar sobre o suicídio, pois fazer do assunto um tabu aumenta o prejuízo. Criar um ambiente favorável, de acolhimento, buscar as redes de proteção e identificar o ponto de vulnerabilidade desse adolescente são formas de ajudar. Lembrando que quanto mais jovem, mais eficiente costumam ser as tentativas de suicídio. Um adulto leva de dois a cinco anos para efetivar primeira tentativa, enquanto que uma criança que pensa em suicídio executa de forma imediata por não fazer muita crítica com relação ao que está vivendo.
– Mesmo com o olhar atendo, muitas vezes o suicídio acontece. Como tratar a família que passou por esse problema?
A tendência é que a família tenha um sentimento de culpa por ter não ter percebido que a pessoa estava doente. Muitas vezes essas pessoas dão sinais nas redes sociais, com conteúdo de desvalia, mas quem está ao redor não percebe. Tratar a família que passa por essa situação é dar oportunidade de demonstrar como ela se sente, através de escuta, acolhimento, criando redes de apoio e buscando as vulnerabilidades.
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