Atletismo, judô, levantamento de peso e natação trazem a participação de 10 atletas refugiados competindo nos Jogos Tóquio 2020
Após um fim de semana repleto de estreias e muita competitividade na Olimpíada de Tóquio 2020, esta semana contará com outras 13 participações de atletas que integram a Equipe Olímpica de Refugiados do Comitê Olímpico Internacional (COI), em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). As modalidades a serem disputadas por esses atletas, entre hoje e sábado (dia 31), são judô, badminton, atletismo, natação e levantamento de peso.
Os judocas sírios Sanda Aldass e Ahmad Alika não conseguiram avançar em seus confrontos realizados nesta madruga, mas nos próximos dias estarão nos tatames japoneses os seguintes atletas: a síria Muna Dahouk (27/07, às 00h); o congolês que vive no Brasil, Popole Misenga (27/07, às 23h); a afegã Nigara Shaheen (27/07, às 23h), que enfrentará a judoca brasileira Maria Portela na luta inicial; e o iraniano Javad Mahjoub (28/07, às 23h).
Além dos judocas, entram também nas disputas desta semana nos Jogos Tóquio 2020 o nadador sírio Alaa Maso (30/07, às 7h) e o levantador de peso camaronês Cyrille Fagat (30/07, às 23h50).
Também estarão competindo os atletas do time de atletismo: o sudanês Jamal Eisa (30/07, às 7h00), os sul-sudaneses Rose Nathike (30/07, às 21h00) e James Nyang (31/07, às 21h00), assim como o congolês Dorian Keletela (31/07, às 21h00). Assim como o judoca Popole, os atletas Rose e James participaram dos Jogos Rio 2016 e tiveram um ciclo olímpico de treinamento em seus respectivos países de acolhida.
Os esforços dos atletas refugiados nos Jogos Olímpicos mostram ao mundo a força e resiliência dos atletas que foram forçados a deixar seus países de origem. Entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2020, 3,9 milhões de pessoas se tornaram refugiadas em todo o mundo, sendo que aproximadamente metade dessa população é composta por crianças.
Como forma de referenciar o potencial humano dos atletas refugiados, o ACNUR criou a página www.acnur.org.br/timederefugiados, onde há fotos, descritivo do perfil e outras informações atualizadas sobre a participação da Equipe Olímpica de Refugiados.
Veja a seguir os perfis dos atletas que competem ao longo desta semana nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020:
A síria Muna Dahouk deixou seu país de origem em 2018 e juntou-se à mãe que já estava na Holanda. Mas, a história da atleta com o judô começa antes mesmo dessa grande mudança. Ainda em Damasco, ela começou a treinar com a irmã, quando tinha apenas seis anos de idade. Com o pai como treinador, o judô fez parte de sua história até a vida adulta e ainda influenciou sua carreira acadêmica. Além da estreia em Tóquio, a competidora também estuda educação física em seu país de acolhida.
Popole Misenga é um judoca congolês que vive no Rio de Janeiro (Brasil) desde 2013. Esta é a segunda vez que Popole compete pela bandeira da Equipe Olímpica de Refugiados. Em 2016, estreou nos Jogos do Rio aos 24 anos. Antes do esporte entrar em sua vida, o atleta teve que fugir dos combates em Kisangani, na República Democrática do Congo. Separado da família, ele foi levado para Kinshasa, onde descobriu o judô em um centro para crianças deslocadas. Quando se mudou para o Brasil e recebeu o status de refugiado, ingressou na escola de judô do Instituto Reação, fundada pelo medalhista olímpico Flávio Canto. Em entrevista ao Comitê Olímpico Internacional, Popole disse que o judô salvou sua vida e que está muito feliz em participar dos jogos e poder representar milhões de pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas.
A afegã Nigara Shaheen começou a praticar judô quando tinha 11 anos, vivendo como refugiada em Peshawar, no Paquistão. Nigara tem grande determinação pelo esporte pelo fato das artes marciais serem uma tradição da família, algo que a inspira ainda mais a disputar suas lutas.
Javad Dahouk nasceu no Irã e buscou proteção internacional no Canadá, onde vive atualmente. Antes da participação nos Jogos de Tóquio, o atleta já teve resultados esportivos significativos em torneios importantes como o European Open e o Grand Slam em Moscou.
Alaa Maso, Natação: Alaa morava em Aleppo com sua família e começou a nadar bem cedo graças a seu pai, que se tornou treinador após se aposentar do exército. Alaa deixou a Síria em 2015 depois que suas instalações de treinamento foram danificadas e ele sentiu a pressão do conflito ao seu redor. Após uma longa jornada pela Europa, ele se estabeleceu na Alemanha e voltou a treinar natação com Emil Guliyev. Ele também voltou à escola e está recuperando os anos perdidos com a saída da Síria.
De origem camaronês, Cyrille Fagat Thcatchet II buscou proteção internacional no Reino Unido em 2014. Sua paixão pelo levantamento de peso que o salvou de alguns de seus momentos mais difíceis. Atualmente, Cyrille acumula vários recordes britânicos de levantamento de peso em seu currículo. Inspirado pela equipe médica que cuidou dele durante uma depressão que enfrentou no passado, Cyrille se formou em enfermagem de saúde mental pela Universidade de Middlesex.
Ainda adolescente, o jovem Jamal Abdelmaji Eisa Mohammed fugiu de sua casa em Darfur, no Sudão, para se proteger da guerra que matou seu pai. Viajou pelo Egito e pelo Deserto do Sinai a pé, antes de finalmente chegar a Israel, onde recebeu proteção como refugiado. Em Tel Aviv, o Alley Runners Club, um clube esportivo que oferece oportunidades para atletas carentes, ajudou Jamal a estabelecer uma nova vida e por seus esforços e resultados alcançados, chegou aos Jogos Olímpicos.
Em 2002, quando tinha 10 anos, Rose Lokonyen Nathike fugiu com sua família de seu país natal, o Sudão do Sul, devido à guerra. Estabeleceu-se no campo de refugiados de Kakuma, no noroeste do Quênia. Rose correu sua primeira corrida de 10 quilômetros e, chegando em segundo lugar, descobriu seu talento para o esporte. Rose teve a honra de ser a porta-bandeira da Equipe de Atletas Refugiados na cerimônia de abertura dos Jogos Rio 2016. Ela vê o atletismo como uma forma de inspirar outras pessoas e promover a paz e no início de 2021, foi nomeada Apoiadora de Alto Perfil do ACNUR.
Assim como Rose, James Chiengjiek Nyang também foi membro da Equipe Olímpica de Refugiados nos Jogos Rio 2016. Aos 13 anos, James foi forçado a deixar sua casa em Bentiu, no Sudão do Sul, para evitar ser sequestrado pelos rebeldes que faziam recrutamento forçado de crianças soldados. Vivendo como refugiado no Quênia, ele frequentou a escola em uma cidade serrana famosa por seus corredores e se juntou a um grupo de treinamento de meninos mais velhos para treinar corridas de longa distância. No começo, ele não tinha tênis adequados para a corrida e agora está em sua segunda Olimpíada.
Depois de ficar órfão na adolescência, Dorian Keletela foi forçado a deixar sua terra natal, a República do Congo, devido à perseguição aos 17 anos. Ao chegar em Portugal, Dorian continuou a correr atrás de seu amor pela corrida. Ele agora vive em Lisboa e treina três horas por dia, seis dias por semana para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.
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