Por: Dra. Paola Alexandria Magalhães / PhD em Ciências Programa Pós-graduação Enfermagem em Saúde Pública – USP
O relacionamento é a base da convivência do ser humano. As relações humanas surgem quando um ou mais indivíduos se encontram e interagem entre si. Essas interações podem ser de um indivíduo com o outro, o que caracterizamos como relações interpessoais, do próprio indivíduo com ele mesmo, caracterizada como relação intrapessoal, e do indivíduo com o meio em que vive. Em qualquer atividade, o indivíduo necessita estar se relacionando com os seus semelhantes.
O afeto se tornou o elo dos relacionamentos, vislumbrando sempre a liberdade e a igualdade entre os que se relacionam tanto no que se refere a amizade, amor, família e profissão. De acordo com a psicanálise, o afeto representa o apego de um ser pelo outro, e estabelece a possibilidade do surgimento de carinho, confiança, intimidade, saudade, ou seja, traz sentimentos que permeiam emoções experienciadas pelos seres humanos. Por meio dele, laços são criados e fortalecidos, e as relações se tornam mais profundas.
Essas experiências traduzidas pelo afeto trazem benefícios aos seres que as experienciam visto que conseguem produzir reações químicas que podem afetar diretamente o corpo e a mente de modo positivo. O afeto faz o indivíduo se sentir amado, querido e acolhido, isso traz segurança e melhora autoestima. Além disso, sua presença traz o benefício da inclusão e de experiências positivas. A falta de afeto pode trazer consequências significativas para a vida do ser humano, como depressão, irritabilidade e isolamento social.
Vocês podem estar se perguntando, mas o que o afeto tem a ver com a responsabilidade afetiva? E o que isso quer dizer?
O afeto está diretamente relacionado com a responsabilidade afetiva. Ao entendermos o conceito de responsabilidade afetiva nos colocamos como seres empáticos e responsáveis diante dos nossos sentimentos e dos sentimentos da outra pessoa. Ter transparência nas relações favorece o amadurecimento das mesmas e sua durabilidade, além de torna-la algo saudável e benéfico.
A afetividade permite ao ser humano demonstrar seus sentimentos e emoções a outros seres, no entanto, quando falamos de responsabilidade afetiva dizemos que temos que assumir nossa responsabilidade diante das expectativas criadas em uma relação. Temos que entender nossos sentimentos, sermos sinceros quanto a eles e responsáveis ao demonstrá-los, responsáveis com o que dizemos e com as atitudes que temos, ou seja, ter responsabilidade com o dizemos, com o que demonstramos e com o que estimulamos no outro no que se refere a planos e promessas, por exemplo.
No que se refere à vida a dois, a responsabilidade afetiva envolve diálogo ponderados e empáticos e coerentes. Ao planejar uma vida a dois é preciso respeitar os acordos e promessas realizados com a finalidade de construir um relacionamento sólido, e mesmo que haja um término, que este seja saudável pautado nas conversas bem fundamentadas, além de ser necessário levar em conta quais consequências isso pode trazer na vida de cada um. Lembrando que muitas vezes repensar uma relação torna-se inevitável e muitas vezes finalizar pode ser o melhor caminho, mas mesmo durante este processo é necessário que haja responsabilidade afetiva.
As relações atuais têm sido pautadas no imediatismo, superficialismo, pautadas no ego e em suprí-lo. principalmente na era digital em que nos encontramos. Ligações afetivas reais e duradouras têm sido a cada dia um desafio. Além disso, relacionamentos têm sido banalizados e cada dia mais pessoas saem devastadas dos mesmos devido à irresponsabilidade afetiva.
Ter responsabilidade afetiva é ter sinceridade com relação ao sentimento que tem pelo outro com quem está se relacionando e deixar claro sobre o que se espera com essa interação. Ter responsabilidade afetiva é ser claro sobre suas intenções, e a partir de conversas maduras, ao optar por ficar juntos, o casal apresentará comprometimento e empatia, além de transparência sobre os sentimentos. Falsas promessas, quebras de confiança, assim como banalização das relações humanas podem desencadear nas pessoas sentimentos de impotência, desesperança, baixa estima, depreciação, e afetá-las inclusive em seus relacionamentos interpessoais no geral e por toda uma vida.
A base de relacionamentos saudáveis é a honestidade, cumplicidade, lealdade, diálogo, empatia e maturidade emocional. Tudo isso nos leva a pensarmos o que queremos para nossa vida. A empatia nos leva a ponderar nossas atitudes com relação ao outro, e ainda arrisco dizer que a empatia é a base da responsabilidade afetiva nas relações.
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