Psiquiatra fala sobre o dia 20 de fevereiro, dia nacional de combate ao álcool e drogas

No dia 20 de fevereiro o país chama a atenção para as consequências geradas pelo uso excessivo do álcool e drogas

O psiquiatra Estevão Scotti, vice-diretor clínico da CSSR, fala sobre o tema tão importante e atual.

Quais os tipos de transtornos a droga e o álcool podem causar?

As drogas e o álcool podem causar efeitos a curto prazo relativos à intoxicação e dependendo da frequência do uso e da quantidade pode levar a pessoa a uma dependência dessas substâncias. Ao longo do tempo a pessoa torna-se dependente, seja da cocaína, maconha ou do próprio álcool. O próprio uso dessas substâncias pode desencadear  o deflagramento de alguns transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia ou transtorno bipolar. No caso do álcool, o paciente pode evoluir para um quadro de demência causado pelo uso crônico dessa substância. O diagnóstico é clínico evolutivo, de acordo com a história clínic a do paciente e com a biografia.

Como ajudar uma pessoa a combater o alcoolismo e o vício em drogas?

É muito importante fazer o diagnóstico precoce para o paciente adquirir uma consciência de morbidade, o mais cedo possível e decidir se tratar. Na dependência química é fundamental que o paciente decida iniciar um tratamento, tenha a consciência da doença e procure ajuda. Isso é um caminho longo, um caminho árduo. Isso engloba tanto a dependência ao álcool quanto das outras drogas.

Campanhas de prevenção, principalmente entre os jovens, podem ser medidas importantes para estimular a conscientização. O tratamento, nesse caso, é multidisciplinar, sendo primeiro realizado um tratamento medicamentoso para evitar a crise de abstinência e iniciar uma reabilitação. A psicoterapia é fundamental.

Nesse caso,  a abordagem com os grupos de mútuo ajuda, como o Alcoólicos Anônimos (AA) e NA são fundamentais, até mesmo um apoio espiritual ou religioso também podem ajudar. Trata-se de um trabalho conjunto de psiquiatras, psicólogos e demais profissioanais  da área de saúde mental. Nos grupos de mútuo ajuda a figura do conselheiro é muito importante também e, sobretudo, a ajuda entre os pares.

Raramente a dependência química vem isolada, pois muitas vezes tem uma comorbidade, ou seja, uma associação entre a dependência química com algum outro transtorno psiquiátrico, como ansiedade, depressão, transtorno bipolar e transtorno de personalidade. Então, o paciente dependente químico torna-se mais complexo e deve ser visto de uma forma mais abrangente. A abordagem psiquiátrica se torna mais relevante, pois tem que ser tratados dois ou mais transtornos.

O isolamento social contribuiu para o aumento nos casos de alcoolismo e das drogas?

Com certeza o isolamento social e pandemia aumentaram as recaídas ou piora do quadro dos pacientes com dependência química, muito em função da perda da rede de apoio do paciente. Os grupos de NA e AA, que ajudam as pessoas a se manter na abstinência foram interrompidos no início da pandemia e depois continuaram online. Muitas pessoas não conseguiram se adaptar a essa nova modalidade e ficaram por um período sem atendimento. E o fator estressor de estar confinado levou muitas pessoas a uma recaída no uso da substância. Certamente o isolamento e confinamento foram fatores agravantes para os pacientes.

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