No terceiro webinar da série ReVisão 2050, do CEBDS, executivos afirmaram que a tomada de decisão dos financiadores está cada vez mais orientada pelo impacto social
O perfil dos investidores deve influenciar e reorientar o core business das empresas para um modelo de negócios mais sustentável. Além das variáveis retorno e risco, a tomada de decisão dos financiadores é cada vez mais influenciada pelo impacto social, ambiental e de governança de um negócio. A disparidade social no Brasil não está apenas no acesso à infraestrutura básica, mas também a linhas de crédito e financiamento para micro e pequenos empreendedores e, por isso, é fundamental direcionar investimentos para diminuir as desigualdades sociais em todas as frentes.
Em síntese, essa foi a principal mensagem dos participantes do terceiro Webinar da série de debates ReVisão 2050, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que visa planejar e construir uma visão de futuro pós pandemia. O terceiro encontro, transmitido ao vivo pelo canal do CEBDS no Youtube, levantou discussão sobre questões relacionadas a Finanças, sob a luz da atual pandemia da Covid-19.
“A falta de acesso ao crédito e a precária digitalização da população em diversos lugares do país, levando em consideração as dimensões continentais do Brasil, são pontos de alerta”, disse Marina Grossi, presidente do CEBDS, que abriu a discussão apresentando dados que apontam que 30% dos brasileiros não estão inseridos no sistema bancário e que, de cada 10 sem contas em banco, 6 são mulheres, a maioria negra.
Para o CEO da Sitawi Finanças do Bem, Leonardo Letelier, mediador do debate, o caminho passa necessariamente pelo engajamento à agenda da sustentabilidade, seja no papel de consumidor, cidadão, empresário ou investidor. “A gente exige que o produto seja mais sustentável, mas vai ao supermercado e compra o mais barato. Queremos políticos e políticas melhores, mas não nos interessamos em participar das discussões políticas. Essa transformação exige maior participação de todos”, disse Letelier.
A CEO da Microsoft Brasil, Tânia Consentino, lembrou que ainda há uma pressão de parte dos investidores apenas por resultados financeiros, mas que isso começa a mudar. “O resultado econômico a qualquer custo não é sustentável e estamos percebendo isso com a pandemia da Covid-19”, destacou. Para ela, há um senso de urgência nesse processo de transformação dos modelos de negócios com foco apenas no financeiro.
“A gente não pode esperar até 2050. Por isso, defendo que a mudança tem que ocorrer já até 2030”, afirmou, destacando como prioridade as questões estruturantes (acesso universal a saneamento básico e energia elétrica, por exemplo) e a incorporação das externalidades na mensuração da produção nacional. “Não dá para medir apenas o que você produz. Mais importante que isso é medir a forma como você produz”, explicou.
Nabil Kadri, chefe do departamento de Meio Ambiente e Amazônia do BNDES, defendeu uma ampliação no conceito de finanças, no sentido da valorização dos investimentos mais sustentáveis. “Em vez de punir, reconhecer, estimular e impulsionar aqueles negócios que têm na sua matriz variáveis ambientais, sociais e de governança, com linhas de crédito mais acessíveis e vantagens financeiras em sistemas de preços e pagamentos, apoio a capital de giro, classificações de risco, entre outras”, exemplificou.
Esse estímulo contínuo no ambiente de negócios, defendeu o executivo do BNDES, deve passar também por públicos que interagem com essa empresa, como fornecedores, por exemplo, de forma que também possam avançar nesta agenda. Para o chefe do departamento de Meio Ambiente e Amazônia do BNDES, o sistema financeiro brasileiro precisa ter uma nova remodelagem. “Nos últimos anos, houve um investimento em bancos cooperativos. A nova fronteira são as FinTechs”, citou ele.
Diretor de Investimento da Yunus Social, Luciano Gurgel do Amaral, defendeu que o crédito é matéria-prima para o processo de transformação social. “Essa crise expôs claramente nossa fragilidade social; deixou claro que o nosso tecido social não está preparado para lidar com uma crise sanitária. E também não estamos preparados para outras crises, que certamente virão, porque elas são recorrentes na nossa história”, alertou.
O executivo da Yunus Social questionou o papel dos agentes econômicos na estrutura do modelo de negócios vigente. “O que mais precisa para que os agentes econômicos percebam que uma economia baseada no carbono, na proteína animal, na desigualdade, na concentração de renda, na inteligência artificial mal usada etc. é parte do sistema? Esse modelo combate os nossos sistemas de defesa social. Então, as empresas deveriam parar de gerar essas doenças autoimunes e mudar de lado, desenvolvendo sistemas de defesa da sociedade”, afirmou Amaral.
Próxima agenda
Com a crise do coronavírus, o CEBDS está realizando entre suas empresas associadas e especialistas multissetoriais discussões sobre a retomada dos negócios e o planejamento de longo prazo, revisitando os compromissos definidos no documento Visão Brasil 2050, lançado na Rio+20, em 2012. Estão previstas ainda webinares para discutir Alimentos, Energia, Biodiversidade e Florestas, Economia Circular e Cidades, com o intuito de pensar o futuro pós-coronavírus.
Os webinares contam com a participação de representantes do terceiro setor e são realizados quinzenalmente às quartas-feiras, de 8h às 9h30, de forma gratuita e abertos ao público em geral. A série de Webinares da Visão 2050 tem patrocínio da Vale, Itaú, e conta com o apoio do SESC, Sitawi, KPMG e ERM.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA:
DATA | TEMA |
10/junho | Alimentos |
24/junho | Energia |
08/julho | Biodiversidade e Florestas |
22/julho | Economia Circular |
05/agosto | Cidades |
SOBRE O CEBDS
O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) é uma associação civil sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento sustentável por meio da articulação junto aos governos e a sociedade civil, além de divulgar os conceitos e práticas mais atuais do tema. Fundado em 1997, reúne cerca de 60 dos maiores grupos empresariais do país, responsáveis por mais de 1 milhão de empregos diretos. Representa no Brasil a rede do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que conta com quase 60 conselhos nacionais e regionais em 36 países e de 22 setores industriais, além de 200 grupos empresariais que atuam em todos os continentes.
Mais informações: https://cebds.org/.
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