Mulher que ajudou caminhoneiro em tragédia que matou Boechat ganha tratamento contra doença rara

A vendedora Leiliane Rafael da Silva, de 28 anos, é portadora de Malformação Arteriovenosa (MAV), tendo recebido o diagnóstico da enfermidade em novembro do ano passado

O acidente no qual o helicóptero que transportava o jornalista Ricardo Boechat (66), caiu e acabou colidindo com a dianteira de um caminhão na Rodovia Anhanguera (SP), junto ao Rodoanel, na segunda-feira passada (11/02) – vitimando, além de Boechat, o piloto, Ronaldo Quatrucci (56) – trouxe à tona a comovente história de resistência da vendedora Leiliane Rafael da Silva (28). A jovem ajudou a resgatar o motorista João Adroaldo (52) das ferragens do caminhão que chocou com a aeronave. 

Leiliane, que acabou ficando famosa na semana passada por sua nobre atitude, convive com o diagnóstico de Malformação Arteriovenosa (MAV) desde novembro de 2018. Quando os primeiros sintomas apareceram, ela havia dado à luz a Lívia, sua caçula, há pouco mais de um mês. Hoje, a nenê tem quatro meses e a vendedora é mãe de mais dois filhos. “Comecei a sentir que estava doente. Meu braço direito foi adormecendo, depois a perna direita. Aí a voz começou a ficar enrolada, até eu ter a convulsão e ir parar no hospital. Ninguém sabia o que eu tinha”, relembrou ela.

A partir daí, a jovem teve que superar, ao lado do companheiro – o operador de máquinas Marcio Manuel – e da família, os diagnósticos imprecisos da doença. Leiliane disse que o primeiro hospital em que fez exames chegou a noticiar para seus parentes que ela tinha um tumor maligno no cérebro e que as chances de sobrevivência eram poucas. “Aí descobri que tinha a doença chamada MAV, que dizem que é mais perigosa que um câncer, porém tem tratamento”, falou.

A Malformação Arteriovenosa é uma patologia rara, causada por deficiências no sistema circulatório. Ela atinge, principalmente, o cérebro. Causa dores de cabeça constantes, hemorragias, convulsões, perda de memória e da coordenação motora. Os tratamentos mais indicados pelos especialistas são: cirurgia transcraniana; tratamento endovascular por cateterismo e radiocirurgia – onde a radiação atinge exclusivamente o tecido cerebral mais afetado pela doença.

Leiliane relembra que, mesmo sem saber, quando ganhou Lívia, já estava doente e que o parto poderia ter causado sua morte, por conta do esforço. “Minha filha nasceu com 4 quilos de parto normal, que durou 25 minutos. Quando sentei numa cama para exames na recepção, a criança nasceu em cima da maca. Os médicos chegaram e ela já tinha nascido”, contou. Desde novembro do ano passado, a vendedora já ficou internada cinco vezes para fazer o procedimento cirúrgico, porém, em todas as vezes, ele acabou sendo adiado.

Leliane, que chegou a ser comparada à Mulher Maravilha – heroína das histórias em quadrinhos – recebeu uma ótima notícia, depois da repercussão de seu ato de coragem, que ajudará bastante em sua cura. “Fui procurada por um médico neurocirurgião que se ofereceu para fazer meu tratamento e a minha cirurgia. Ele disse que eu só precisaria encontrar um hospital para isso. Passei por consulta com ele na quarta-feira, dia 13”, disse ela.

Inclusive, esse apelido de Mulher Maravilha acabou rendendo um desenho feito pelo ilustrador Angelo France (40), onde Leiliane aparece caracterizada como a heroína, lutando com o metal da fuselagem do caminhão de Adroaldo – imagem que circulou bastante pela internet. Leiliane recebeu o desenho e agradeceu a homenagem que Angelo fez a ela em seu Instagram. “Ficou lindo, perfeito. Quem fez o desenho é muito inteligente. Mas eu não sou não heroína, não sou Mulher Maravilha, acho que isso foi um pouco exagerado. Apesar disso, eu fiquei bem parecida, com cara de brava, descabelada, ficou engraçado”, disse ela, com bom humor. “[…] Heróis reais existem! Leiliane, que assistiu de perto a queda do helicóptero, desce da moto e corre para salvar a vida do motorista do caminhão atingido no acidente. Uma mulher forte, de coragem, que arriscava sua vida enquanto os homens a sua volta apenas se importavam em filmar ao invés de ajudar. Parabéns Leiliane!!”, publicou France.

Para a família, a atitude de Leiliane na hora do acidente só reflete a personalidade agitada e disposta da jovem. O marido, Marcio, disse que tudo aconteceu muito rápido e que Leiliane foi espontânea em seu ato. “Antes dela descer da moto, eu peguei o celular dela para filmar e mostrar para a mãe dela o que ela estava fazendo, como ela é teimosa”, disse o maquinista.

A única preocupação de todos era com a recomendação médica que proibia Leiliane de fazer qualquer tipo de esforço e nem passar por nenhum estresse. “Dei bronca nela que ela não poderia ter feito, mas só de pensar que ela salvou uma vida, fiquei orgulhosa”, disse a mãe da vendedora, dona Luciene Terto da Silva (53). “Ela não podia ter feito o que fez porque ela poderia ter morrido ali também. Mas era uma vida e ela conseguiu salvar essa vida”, completou o pai, seu Humberto Manoel dos Santos (57). 

E é com muita garra que Leiliane espera cumprir com o tratamento e fazer a cirurgia que necessita. A vendedora faz planos e pretende viver muito ainda. “Não vou morrer agora, não vou mesmo. Tenho 28 anos e se as veias não estouraram até agora, não vão estourar mais. Quero viver, quero ver meus filhos crescerem, quero ver netos. Tenho de durar muito tempo, pelos menos até uns 70 anos (risos)”, brincou a jovem.

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