Estudos mostram que, após meses de recomendado distanciamento entre pessoas, para muitos o retorno à rotina pré-pandemia pode gerar desconforto, mas há maneiras de treinar as competências sociais para retomar o convívio e até mesmo se destacar nos âmbitos pessoal e profissional
No artigo “Research suggests mask wearing can increase struggles with social anxiety”, publicado na plataforma científica EurekAlert!, David Moscovitch, professor de psicologia da Universidade de Waterloo, no Canadá, expõe que um fenômeno se desenha para os próximos meses. Muitas pessoas que não lutavam contra a ansiedade social antes da pandemia talvez se sintam mais ansiosas do que o normal, à medida que a rotina é retomada e ao passo que novas regras sociais podem também passar a valer.
Estudo da Fundação Oswaldo Cruz confirma que a situação enfrentada há mais de um ano deve gerar consequências, uma que vez que se estima que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados.
Fato é que habilidades sociais ou competências que permitem que as pessoas interajam com outras são fundamentais para a humanidade e o que foi experenciado, nos últimos meses, foi um estado de exceção. E cabe destacar a relevância que as habilidades sociais têm assumido hoje, principalmente, no mercado de trabalho. A Pesquisa Habilidades 360º da Page Personnel, por exemplo, indica que a importância é tão grande que 59,7% de seus clientes indicaram que uma das razões pelas quais não conseguem preencher uma vaga é porque os candidatos não possuem as habilidades sociais necessárias para ocupar a posição.
Para Flora Victória, mestre em Psicologia Positiva Aplicada pela Universidade da Pensilvânia, o mundo de trabalho vai realmente exigir cada vez mais a inteligência no quesito habilidade social. Não bastará mais ter um currículo recheado de títulos se não houver competência para se lidar com pessoas, além do apetite pelo desenvolvimento pessoal a partir do estudo constante. “O continuous learning (educação continuada), que é o conceito de você estar sempre aprendendo é o que fará toda diferença no mercado de trabalho”, pontua Flora.
Isso porque o número de competências exigidas para uma determinada posição de trabalho está aumentando ao ritmo de 10% ao ano. E um terço das competências que eram exigidas pelas empresas em 2017 não serão relevantes em 2021, segundo Pesquisa Gartner com 800 líderes de RH. “Muitos profissionais não estão aprendendo as novas competências certas para o seu desenvolvimento e para o benefício da organização”, destaca Flora.
É certo, portanto, que as habilidades terão de ser retomadas ou até reaprendidas em certos casos. A pergunta é como. “Essa espécie de fobia social ou traços dela em algumas situações advêm de uma autopercepção negativa e de falta de confiança para vencer adversidades. Tudo isso pode ser trabalhado a partir da análise de valores e crenças, controle de estados emocionais, entre outros aspectos”, diz a mestre em Psicologia Positiva.
“Por isso, essa tomada de consciência sobre certos aspectos pessoais é o início para um processo de desenvolvimento dessas competências sociais. Não é uma questão de não as ter, é uma questão de uns terem mais desenvolvidas que outros, por isso a disposição para o aprendizado é tão fundamental”, completa.
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