De janeiro a abril de 2018, foram registrados 26 casos. No mesmo período deste ano, o número pulou para 260. De acordo com os especialistas, esse aumento se deu porque as mulheres estão tendo mais coragem para denunciar tais violações e, também, de criticar a rede de saúde
O número 180, da Central de Atendimento à Mulher, pertencente ao Governo Federal, registrou, somente nos quatro primeiros meses de 2019, um aumento de dez vezes nas denúncias de violência obstétrica – foram 260 casos notificados. Ano passado, no mesmo espaço de tempo, apenas 26 mulheres ligaram para a Central dizendo que haviam sofrido esse tipo de violação. Nos anos anteriores, tais casos eram enquadrados no índice geral de denúncias de violência.
Conforme Lígia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o salto nos registros é porque as mulheres estão mais decididas em denunciar esse tipo de agressão. Porém, muitas delas ainda seguem em silêncio. “Várias outras mulheres devem ter sofrido situações semelhantes. Aumentou graças, primeiro, à divulgação de pesquisas sobre o que está acontecendo com o parto no Brasil. A gente conseguiu ter sucessso na divulgação de violências ao parto. E isso é muito importante porque estimula, então, que as pessoas denunciem”, falou Lígia. “O que a gente tem que olhar não é exatamente esse número tão absoluto. ‘Aumentou tantos por cento’. Significa que isso é uma ponta do iceberg”, completou a especialista.
Porém, para Flávia Nascimento, defensora pública, o número de denúncias disparou também por conta da precarização do sistema de saúde. “A gente tem percebido que, de um determinado tempo para cá, a atenção à saúde da mulher vem sofrendo reveses, principalmente na atenção primária. Isso contribui muito para o aumento de casos de violência obstétrica, que é um fenômeno ligado também à negligência”, salientou Flávia. Só que este problema não é exclusivo somente da rede pública. Segundo o 180, algumas mulheres que relataram terem sido agredidas durante o parto, eram pacientes do sistema privado de saúde.
O Ministério da Saúde preferiu não comentar sobre os dados, uma vez que eles foram coletados pelo Ministério da Mulher, que também não quis se manifestar, alegando a fragilidade da pauta. A propósito, “violência obstétrica” é um termo que gera muita polêmica ultimamente. Ele engloba agressões, tanto físicas quanto psicológicas, que são praticadas pelos profissionais da saúde contra às mulheres antes, durante ou depois delas darem à luz. Classificam-se como violência obstétrica: comentários ofensivos, práticas e/ou ações desnecessárias e até mesmo de cunho violento contra às gestantes. No início do mês, o Ministério da Saúde fez um despacho chamando o termo de inadequado e pediu que ele fosse extinto.
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