Cristiane Machado: das agressões do ex-marido às telas de Hollywood

Vítima de violência doméstica, Cristiane Machado estampou as capas dos jornais no final do ano passado, devido ao drama sofrido com grande repercussão, após a divulgação de fortes imagens de agressões dentro de casa, do até então marido, o ex-diplomata Sérgio Schiller Thompson-Flores

Você passou por um momento complicado na sua vida pessoal. Foi agredida pelo seu marido. Como tudo começou?

Tudo começa com pequenas imposições: roupa , amigos que não servem mais, a família você tem que ver pouco. Você começa a perceber que não está sendo mais você e sim o que o outro quer que você seja. Depois veio um falar mais alto, um tapa e ainda empurrão. Eu não podia mais ter um celular que ele não tivesse a senha, mas o dele eu não procurava ver nada. Até que depois que nos casamos, quatro meses após, veio a grande agressão. Me ameaçou matar com a machadinha , na frente do meu pai cego e da minha tia. Ele chegou em casa muito nervoso porque a ex companheira o havia processado e eu queria entender direito o que estava acontecendo. Ele foi muito grosseiro e eu não gostei e não achei justo. Perguntei novamente e ele falou que não devia informações para mim. Tínhamos acabado de casar: 4 meses. E aí veio o empurrão e ele passou a noite me agredindo verbalmente e depois fisicamente. Quando falei que ia embora, começou a quebrar a casa, me feriu, me jogando na cama e cai em cima do vaso de vidro, que perfurou meu braço, quebrou os telefones e não me deixou ir embora e nem falar com minha família . São 7 portas até sair de casa . Ele me pegou pelos cabelos, pegou uma faca botou na minha barriga e mandou eu ajoelhar e dizer que ele estava sempre certo. Eu ajoelhei com medo de morrer e entrei como ele mandou para casa. Papai que é cego, chegou com minha tia, quebrou computadores, joias, na frente deles . Meu pai chegou com telefone e me deu escondido quando tentei ligar para polícia, ele pegou celular e jogou fora. A polícia chegou uma hora depois: prisão em flagrante, porém foi solto em 20 minutos, pagando fiança de R$ 1.500,00. Fui embora para casa da minha mãe e ele ficou insistindo dizendo que me amava, para eu dar uma chance, que nunca mais aconteceria. Pediu encontro com os filhos juntos, ajoelhou na rua e disse que queria morrer senão ficasse com ele. Chorava , implorava a acabei perdoando . Tínhamos casamento no civil um mês e depois de tudo acontecer , para mim, estava tudo acabado. Mas ele me convenceu a voltar, alegando ser a renovação de votos perante Deus. Já estávamos casado há 4 meses no civil. Queria acreditar que seria um fato isolado. Em agosto, ele me agrediu de novo porque eu queria ver o prontuário da clínica que ele ficou um dia, que a filha dele dizia que maltratava as mulheres. Ele estava brigando com a família inteira e quando pedi para ver, ele bateu na minha mãe, me empurrou, me bateu muito e não me deixou sair. Fiquei em cárcere privado. Eu queria ir embora e ele não deixava e foi ficando mais nervoso até que pegou o fio de carregador celular e me enforcou e ameaçou com cinto, caso eu saísse . De manhã, ele tomou muito Lexotan e consegui sair e fui denunciar. A partir daí, vivi grande filme de horror e por mais que ele tivesse afastamento do lar, ele voltou e tive que esperar os funcionários chegarem, alegando que eu precisava ir ao hospital. Fiquei internada com pielonefrite, indexação nos rins por causa da grande infeção e febre de 40,5 . Ele foi para o hospital comigo. Parecia ter medo que eu saísse do controle dele. E acreditem se quiser, registrou um boletim de ocorrência de lesão corporal! O delegado me  indiciou, mas o ministério público não acatou. Uma grande trama maldosa.

O que você leva de aprendizado depois desse momento difícil? Eu aprendi que o bem mais precioso que podemos ter é a coragem e a verdade sempre. O poder interior é muito importante.

Você tem algum arrependimento? Fui coagida , ameaçada e amendrontada por ele muitas vezes. Temia pela minha vida e a dos meus pais. Diante das ameaças, tentei muito que as agressões acabassem e pudéssemos viver sem ser agredida. Queria pedir socorro, mas tinha medo do que pudesse acontecer. Foi um filme de terror. Arrenpendimento não , talvez só queria que não tivesse passado por isso. É uma marca que ficará o resto da vida.

O que você diria para as mulheres que estão passando por situação semelhante? Que denunciem. O caminho é longo, difícil e traumático. Vivo hoje represálias da família dele e de recados dele para mim. Não durmo mais que duas horas e tenho pesadelos e medo de morrer . Mas precisamos ter coragem e denunciar para fazer o judiciário funcionar de forma mais ativa.

Falando sobre vida profissional, você foi convidada pelo diretor americano Josh Taft, para viver Maria, no longa com título provisório de “Fear”. Como surgiu o convite e como foi essa experiência? Eu trabalhei com Josh em uma campanha mundial da Coca Cola, que filmamos em Grumari, no Rio de Janeiro. Na época, quando finalizamos o trabalho, ele me deu o cartão com seus contatos e disse que começaria em breve a trabalhar em um roteiro que teria uma personagem que era meu perfil: uma brasileira sensual, com um lado brejeiro, que precisava passar um lado misterioso. Perguntou se eu falava inglês e logo depois veio o convite oficial. Fui com meu agente a Los Angeles, nos Estados Unidos, conversar pessoalmente e foi incrível. Filmar com profissionais de Hollywood foi um sonho realizado.

Antes desse trabalho, você participou de outro filme internacional: o longa argentino “República das Canetas Perdidas”, com direção de Rosário Boyer. Como foi a experiência? Você planeja carreira internacional?

Filme argentino utiliza outra linguagem, que foi muito interessante conhecer. O longa misturava animação 3D. Contracenamos com canetas e bonecos animados. Os projetos internacionais foram acontecendo naturalmente  amei todas as oportunidades. Além de Artes Cênicas, sou formada em Cinema, e depois que rodei o longa argentino, fui estudar atuação e direção por um período na New York Film Academy, nos Estados Unidos.  Sempre fui muito determinada no que me proponho fazer. Queria me aprofundar mais na linguagem e forma de fazer cinema americano, que é totalmente diferente do nosso.

Foto: Filipe Lisboa

Em 2011, você foi musa da abertura da novela ‘Passione’, da TV Globo, quando teve seu rosto retratado pelo artista plástico Vik Muniz. Atualmente, essa imagem está rodando os principais museus do mundo. Conte um pouco sobre esse trabalho e como se sente sendo retrata pelo Vik Muniz. Nunca pensei que poderia virar a musa inspiradora do Vik. Ele só tinha esculpido o rosto de uma atriz, que foi a Elizabeth Taylor. Ser a segunda nessa linha de trabalho foi uma honra para mim. Ele projetou uma foto do meu rosto em tamanho gigante no chão e foi montando com sucatas e objetos. Foi um trabalho muito interessante e bem detalhista. Essa imagem já passou por Nova Iorque, Tel Aviv, Atlanta, Madrid, e outras cidades.

Você também costuma se envolver com projetos sociais. Desde 2010, por exemplo, você faz parte  da campanha “Amigos da Amazônia”. Como é o projeto?

Fui a Amazônia pela primeira fez para fotografar e conhecei o Ribamar Mendes, que gerencia todos os projetos da Sociedade Amigos da Amazônia, e fui convidada por ele para ser  embaixadora do projeto junto com Hans Donner e o ator Daniel Uemura.  Fiquei encantada com o projeto. Levamos livros, lápis, caneta, borracha, material didático para uma população que não tem acesso. Pegamos canoas, nos enveredamos na selva, e vamos até as famílias ribeirinhas, que moram em palafitas, em lugares distantes. As pequenas escolas foram construídas nessas palafitas. É uma realidade muito diferente e que merece atenção.  O Norte do Brasil merece um olhar mais profundo. Minha primeira vez foi em 2010 e todo ano volto lá para fazer a entrega desse material escolar. Ver aquelas carinhas felizes na ansiedade de ter um caderno para aprender é uma grande realização, pessoal. O projeto começou em 2002, mas tomou um corpo grande em 2010. São em torno de 7200 alunos assistidos. Qualquer pessoa e empresa podem acessar o site e fazerem suas contribuições, seja em dinheiro ou doando um caderno, livro, lápis e etc.

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