Especialista comenta a forte dependência das indústrias brasileiras de produtos advindos da região asiática
Os conflitos entre os vizinhos Rússia e Ucrânia tem se intensificado desde o início das invasões russas em fevereiro deste ano. As hostilidades entre os dois países trouxeram grandes impactos para o mercado brasileiro, resultando em crise no valor de combustíveis e impactos para o setor agrícola – além de causar a falta de alimentos em algumas partes do mundo e trazer riscos de uma crise energética na Europa.
No entanto, outro conflito de proporções econômicas potencialmente ainda mais catastróficas pode estar em vias de dar seus primeiros passos. A recente visita a Taiwan da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, no dia 02 de agosto, levantou a ira do governo chinês, que entende o encontro como uma afronta à soberania do país na região. Como resultado, mísseis foram lançados sobre a ilha autônoma, e uma rigorosa sanção econômica foi imposta – com a suspensão de importação de itens como frutas e produtos de pesca.
“Um conflito armado entre as duas nações asiáticas pode causar uma crise econômica sem proporções desde a Segunda Guerra Mundial”, explica Helmuth Hofstatter, CEO e founder da Logcomex, empresa de soluções para Comércio Exterior. “A indústria chinesa tem forte presença na economia mundial, e as rotas marítimas entre a China e Taiwan é uma das mais movimentadas do mundo”.
Para o Brasil, os impactos seriam de grandes proporções dada a forte dependência da indústria brasileira de produtos importados dessa região, principalmente semicondutores. No primeiro semestre de 2022, o país importou mais de 1 bilhão de dólares, cerca de 5 bilhões de reais de Taiwan – um crescimento de 5% em comparação ao mesmo período do ano anterior. “Os produtos mais importados dessa região são os semicondutores, chips e processadores, que somam 30% de toda a chegada desse tipo de produto no país. Das importações de Taiwan, 50% foram semicondutores, processadores e componentes eletrônicos”, pontua o executivo da LogComex.
As mercadorias são em larga escala encaminhadas para empresas do ramo automotivo, eletroeletrônicos, eletrodomésticos e informática. “Havendo uma interrupção no suprimento desses processadores e controladores, essas indústrias brasileiras precisarão buscar novos países para realizar o abastecimento de estoque. Nesse trâmite, a quebra da cadeia de suprimentos afetará diretamente a oferta destes produtos, podendo ocasionar uma alta nos preços de bens duráveis”, completa.
Quais regiões seriam as mais afetadas no Brasil?
A partir de uma análise de dados de importação fornecidos pela LogComex, observa-se que o estado de São Paulo é responsável por cerca de 37% de todas as importações brasileiras vindas de Taiwan, sendo a localidade mais afetada economicamente por uma eventual variação de preços.
O estado do Amazonas – por abrigar as principais indústrias de eletroeletrônica do Brasil, está em segundo lugar, com 30% das importações brasileiras advindas da ilha asiática; e Santa Catarina ocupa o terceiro lugar, sendo responsável por 13% desses negócios.
“Se avaliarmos os 779 mil embarques realizados no primeiro semestre do ano, 45% passaram por rotas que seriam diretamente afetadas caso uma guerra entre China e Taiwan se iniciasse”, finaliza Hofstatter. “Avaliando as atividades militares dos últimos dez dias, existem grandes chances de os portos da região serem fechados e toda a cadeia de suprimento mundial ser diretamente impactada”.
Sobre a Logcomex
Fundada em 2016, pelos empreendedores Helmuth Hofstatter Filho e Carlos Souza, a Logcomex é uma startup que se propõe a organizar as informações do comércio global para transformar a maneira que as empresas fazem negócios, oferecendo soluções de visibilidade e data analytics para todos os elos do comércio exterior.
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