Coronavírus e gripe espanhola: grandes semelhanças

O gato de estimação utiliza máscara juntamente com a família

Em 1918, a gripe espanhola atingiu o mundo, espalhou pânico, morte, e durou 2 anos. A busca por remédios milagrosos virou um desespero tão grande, que em função disso, foi criada a caipirinha

A pandemia de gripe de 1918, foi a pandemia mais grave da história recente. Embora não exista um consenso universal sobre a origem do vírus, ele se espalhou pelo mundo durante 1918-1920. Estima-se que cerca de 500 milhões de pessoas ou um terço da população mundial tenha sido infectada pelo vírus.

Foi como um filme de terror. Muitos cadáveres nas portas de casas do Rio de Janeiro, ocupando ruas inteiras. De tempos em tempos, surgiam carroças, sem cuidado algum, para recolher os corpos espalhados, que não cabiam mais nos cemitérios.

A polícia andava pelas ruas capturando homens, que são forçados a abrir covas e sepultar cadáveres. São tantos mortos que não há caixões suficientes e os corpos são despejados em valas coletivas.

Foto: Biblioteca Nacional

A gripe espanhola invadiu o Brasil, a bordo do navio Demerara, procedente da Europa, em setembro de 1918. No mês seguinte, o país inteiro já estava infectado pela pandemia que até hoje foi a mais devastadora da história. Comércios e prédios públicos do país foram fechados. Sem escolher classes sociais, a gripe mata incansavelmente.

Os hospitais do Brasil ficam abarrotados. As escolas aprovaram todos os alunos naquele ano, e dispensaram todos das aulas. O comércio todo fechou as portas, com exceção das farmácias, onde as pessoas brigavam fisicamente por remédios que prometiam curar as vítimas da doença mortal.

– Nos subúrbios do Rio de Janeiro, as ruas ficam cheias de cadáveres porque as famílias ficam com medo de serem infectadas pelos mortos dentro de casa. Além disso, a medida facilita o trabalho de remoção das carroças da limpeza pública – explica a médica e historiadora Dilene do Nascimento, da Casa de Oswaldo Cruz.

O governo apresenta uma série de projetos de lei com o objetivo de combater a doença e amenizar seus efeitos. As estatísticas se tornam confusas a respeito do número de vítimas no Brasil, mas não havia dúvidas da avassaladora pandemia.

Aglomerações públicas são proibidas, teatros e cinemas fechados e lavados com desinfetante. As pessoas ficam proibidas de ir ao cemitério para evitar o contágio e também para não verem o estoque de corpos insepultos.

Em São Paulo, a população recorre a um remédio caseiro: cachaça com limão e mel. Em consequência, o preço do limão dispara, e a fruta some das mercearias. De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça, foi desta receita supostamente terapêutica que nasceu a caipirinha. 

– A verdade é que a gripe não tem cura, diz o médico Lybio Martire Junior, presidente da Sociedade Brasileira de História da Medicina. – Diante de uma doença mortal nova e da falta de informação, a população fica apavorada e acredita em qualquer promessa de salvação. Até hoje é assim.

– As famílias ricas são menos atingidas do que as famílias pobres porque se refugiam em fazendas no interior do país, mantendo distância do vírus – conta o historiador Leandro Carvalho, professor do Instituto Federal de Goiás e autor de dois estudos sobre a epidemia de 1918.

Fora a multidão que morria todos os dias, começou a circular no Rio a história de que a Santa Casa de Misericórdia, para abrir novos leitos, acelera a morte dos doentes em estado terminal. Isso aconteceria por meio de um chá envenenado administrado aos pacientes na calada da noite. Nasce, assim, a lenda do “chá da meia-noite”. Os jornais apelidam o hospital de “Casa do Diabo”.

Prefeitos e governadores distribuem remédios e alimentos, improvisam enfermarias em escolas, clubes e igrejas, convocam médicos particulares e estudantes de medicina.

Da mesma maneira abrupta que chega ao Brasil, a gripe espanhola desaparece repentinamente. Foram tantas as pessoas infectadas até 1920 que o vírus praticamente não teve mais a quem atacar.

Terminando a pandemia, os cariocas utilizaram o próximo carnaval como forma de exorcizar o fantasma da gripe espanhola. O Rio assiste, nos bailes e nos blocos de rua, àquela que talvez tenha sido a folia mais desenfreada de que se tem notícia na cidade.

Hoje em dia, com o avanço da medicina e da tecnologia no mundo, estima-se que a pandemia dure por volta de 1 ano, 1 ano e meio.

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