O contingenciamento de verbas na área da educação pode acarretar a demissão de 2,5 mil funcionários terceirizados em instituições federais no estado do Rio de Janeiro. O dado foi divulgado durante a segunda audiência pública da Jornada do Corte Federal, realizada pela Comissão de Economia, Indústria e Comércio, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), na quinta-feira (06/06), na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Essa estimativa é da diretora de Administração e Planejamento do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), Inessa Salomão.
A diretora teme que o contingenciamento leve prestadoras de serviços à falência e, assim, paralise os campi federais. “Vimos isso acontecer na crise da Uerj, que ficou em greve por três meses entre 2017 e 2018. A empresa de segurança que atendia a Uerj prestava serviço para outras instituições. Ela ficou sem receber e quebrou. E quando ela faliu, muitas unidades ficaram sem serviço de segurança. Foi um efeito cascata. E o que pode acontecer agora é bem pior. Se a UFRJ, por exemplo, parar de pagar fornecedores por muito tempo, eles quebram e deixam muitas unidades sem serviço, alertou Inessa.
Segundo o cientista social Renato Dirk, da Subsecretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Planejamento do Rio, a medida anunciada pelo Governo Federal em março pode provocar um aumento da violência: “Se um campus fechar, o entorno vai morrer também. Os comércios começam a se mudar e outros fecham. Esse corte parece ser criminoso, e vai ter degradação social. É só olhar para o que aconteceu na Avenida Brasil com saída das grandes empresas. O passo seguinte é o aumento da criminalidade”.
Para o presidente da Comissão de Economia da Alerj, deputado Renan Ferreirinha (PSB), a situação é crítica. “Após essa audiência, estou ainda mais convencido de que o contingenciamento será muito danoso para a economia do estado do Rio de Janeiro. O governo federal está asfixiando a Educação. E asfixiar a Educação é matar o nosso futuro”, comentou.
Impacto no interior do estado
Representantes das cidades de Quissamã e Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, reforçaram que o enfraquecimento das entidades federais serão prejudiciais para a economia e o desenvolvimento dos municípios. Eles lembraram que as unidades já estavam sem recursos desde o ano passado e que o contingenciamento anunciado este ano inviabiliza o funcionamento dos campi a partir de agosto.
O secretário municipal de Desenvolvimento de Campos, Felipe Quintanilha, apontou para um possível enfraquecimento da economia no interior do estado. “Sem o Instituto Federal Fluminense (IFF), Campos não teria nem sombra de inovação, tecnologia e empreendedorismo. Não consigo imaginar como seria a cidade sem o campus”, observou.
Igor Valpassos, da diretoria do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), citou um caso grave que pode acontecer no interior, onde a instituições federais têm seus campi. Ele afirmou que o corte de verbas no campus em Pinheiral, por exemplo, pode significar a morte de animais. É que o IFRJ funciona em uma fazenda e, sem recursos, não haveria como manter os 45 postos de manutenção da área. “Isso implicará na morte de equinos e suínos. O corte de verba impacta a vida dos estudantes e dos animais. No campi de Engenheiro Paulo de Frontin, temos o primeiro curso público do Brasil de jogos digitais em uma cidade do interior, e a maior parte dos alunos é de outras cidades. Com o corte, as aulas podem parar e esses alunos certamente irão deixar a cidade”, conta Valpassos.
Além do deputado estadual Waldeck Carneiro, vice-presidente da Comissão de Economia da Alerj, também participaram da audiência Luciano Lourenço, representante da prefeitura de Quissamã; João Neto, do DCE da UFF; e Fernanda da Costa, do IFF.
A última audiência pública da Jornada do Corte Federal está marcada para a próxima quinta-feira (13/06), às 9h30, no Auditório Pedro Calmon da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no campus da Praia Vermelha. O encontro buscará mensurar os impactos do contingenciamento de longo prazo, e o efeito no mercado de trabalho e na arrecadação do Estado.
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