Concentração de renda volta a piorar no Brasil e desigualdade social é a maior já registrada, diz IBGE

Em 2018, a renda dos brasileiros mais ricos cresceu 8,4%, enquanto a dos mais pobres caiu 3,2%. Desigualdade sobe depois de permanecer dois anos estável

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Mensal por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, apontou que a concentração de renda do Brasil voltou a cair em 2018 e que a taxa que mede a desigualdade no país foi a pior da história. 

No ano passado, o índice de Gini, utilizado para calcular a concentração e desigualdade de renda, pulou para 0,509. Anteriormente, havia apresentado uma estabilidade de dois anos consecutivos, quando marcava 0,501. Esse índice tem variação de 0 a 1. Quanto mais perto de zero, melhor é a economia de um país. E quanto mais próximo de 1, mais desigual é a distribuição de sua renda. A série leva em conta o rendimento médio da classe trabalhadora de todos os tipos de serviço.

Este número é considerado o maior desde o começo da medição, em 2012. O melhor resultado registrado para o índice de Gini até hoje foi em 2015, com 0,494. “Historicamente, o Brasil é um país onde a desigualdade é uma das piores. Sabemos que é um dos países com maior concentração de rendimento, talvez entre os dez piores”, disse Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad Contínua.

E, de acordo com a analista do IBGE, Adriana Beringuy, essas variações no índice de Gini têm relação com as flutuações na renda dos mais ricos. Entre os 1% da camada mais rica do país – aqueles que recebem em torno de R$ 27.744 por mês – a renda média cresceu 8,4% quando comparada com a de 2017. Em contrapartida, a fatia dos mais pobres (5% dos brasileiros que têm rendimento mensal girando perto dos R$ 158) diminuiu sua renda em 3,2%. 

Segundo a pesquisa do IBGE, a elite econômica do Brasil ganha 33,8 vezes mais do que os 50% que fazem parte da população com rendimento menor (R$ 820). Essa é a maior diferença já apontada pelo instituto. Na última apuração, em 2017, o índice era de 31,2 vezes.

Houve um ligeiro crescimento no rendimento médio mensal de todos os trabalhos quando são comparados os índices de 2017 e 2018. Ano passado, foi de R$ 2.244, enquanto no ano anterior, marcou R$ 2.107. A concentração da massa do rendimento médio mensal real domiciliar per capita também cresceu, saltando de R$ 264,9 bilhões em 2017 para R$ 277,7 bilhões em 2018. Nesse ponto, é considerado as diversas formas de obter renda, não só com trabalho. 

Desse total, conforme mostrou o IBGE, os 10% da população com rendimentos menores concentram 0,8% da massa. Já os 10% com os rendimentos maiores possuem 43,1%. Inclusive, os rendimentos médios mensais da elite economicamente favorecida superou o índice apresentado por 80% da população (41,2%).

De todas as regiões, apenas o Nordeste não apresentou piora da desigualdade em 2018, marcando 0,520 (abaixo dos 0,531 de 2017). Porém, o desequilíbrio de rendimento da região só declinou porque os nordestinos com maior poder aquisitivo tiveram perdas financeiras. E, mesmo apresentando essa melhora, o Nordeste brasileiro segue tendo o pior registro da concentração de renda do país. Posteriormente, vem o Norte (0,517), Sudeste (0,508), Centro-Oeste (0,486) e Sul (0,448). 

A Pnad Contínua também mostrou que o trabalho segue sendo a maior fonte de renda média mensal do brasileiro (72,4%), seguido de outras fontes (27,6%), outros rendimentos (3,3%), aluguel e arrendamento (2,5%) e pensão alimentícia (1,2%). A aposentadoria e pensão cresceram em participação na renda domiciliar, representando 20,5%, enquanto em 2017 era 19,9%. A proporção de pessoas com rendimento de trabalho caiu, e isso tem relação com a perda de empregos. Já a proporção de aposentadorias vem aumentando, o que pode estar relacionado a mais pessoas buscando o benefício e por componentes demográficos, tanto que é mais forte no Sul e Sudeste, onde a população está mais envelhecida”, salientou Maria Lúcia.

Já as famílias que recebem o auxílio do Bolsa Família diminuíram. Em 2012 e 2014, eram 15,9% e 14,9%, respectivamente. E em 2018, esse número caiu para 13,7%. No Norte e Nordeste do país – zonas com a concentração maior de pessoas com baixa renda – 28,2% e 25,4% receberam, respectivamente, o benefício no ano passado. 

Deixe o seu comentário

Comente

Seu e-mail não será publicado.


*