Fadiga, falta de ar e queda de cabelo são sintomas relatados por pessoas infectadas pelo novo coronavírus. E podem indicar deficiência de ferro no sangue ou anemias que persistem depois do período mais agudo da infecção. No mês em que campanhas conscientizam sobre anemia e leucemia (Junho Laranja) e doação de sangue (Junho Vermelho), especialistas têm a missão de também esclarecer dúvidas relacionadas ao contexto de pandemia da COVID-19 – seja sobre sintomas, fatores de risco e sobre a própria vacina.
A hematologista Juliane Musacchio, do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro, explica que, durante a infecção pelo vírus, o paciente pode desenvolver anemia, e a reposição de ferro deve ser indicada por um médico. Em caso de qualquer sintoma persistente, as causas devem ser investigadas por um profissional.
Quanto ao comportamento do vírus em pessoas com tendência à anemia, a médica ressalta que não há evidências de relação com casos mais graves. “Os dados da COVID-19 em pessoas que possuem doenças hematológicas benignas são escassos. Já formas de anemia hereditária, como a talassemia, podem ser um possível fator de alto risco, de acordo com relatos e séries de casos”, afirma Juliane.
Doença que ocorre na formação das células sanguíneas, a leucemia, assim como outros tipos de câncer, estão no grupo de risco associados à COVID-19 grave, prioritários para a vacinação. “Situações como doença falciforme, transplante de medula óssea e uso de corticosteróides ou outros medicamentos imunossupressores, muito usados no tratamento de doenças hematológicas, foram definidos como comorbidades”, acrescenta a hematologista.
Uma das dúvidas recorrentes no período é sobre os cuidados para doar sangue, ato essencial que não deve ser interrompido. No entanto, pessoas que atendem aos requisitos para doação mas que tenham tido COVID-19 ou tenham sido vacinados devem esperar 30 dias desde a dose do imunizante ou do término dos sintomas.
A hematologista esclarece outras dúvidas sobre anemia e leucemia:
– Anemia pode indicar outras doenças? Em casos mais persistentes, pode ter relação com doenças mais graves?
Sim, a anemia pode ser um achado em várias outras situações, não sendo exclusiva de doenças primariamente hematológicas. Pode ocorrer em vários tipos de infecção, câncer, doenças reumatológicas e autoimunes, dentre outras, e quando persistente, pode ter relação com quadros clínicos mais graves ou arrastados.
– O que indica anemia em um exame de sangue e evidencia que precisamos ter cuidado para não desenvolver caso mais grave?
A anemia é definida como uma redução em uma ou mais das principais medições de glóbulos vermelhos obtidas como parte do hemograma completo. Uma baixa concentração de hemoglobina e/ou hematócrito são os parâmetros mais utilizados para diagnosticar a anemia. Os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para anemia em homens e mulheres são hemoglobina abaixo de 13 ou 12 g/dL e hematócrito abaixo de 39% e 36%, respectivamente.
Para que não seja desenvolvida uma anemia mais grave, em geral com hemoglobina abaixo de 7 g/dL e/ou hematócrito menor que 21%, o paciente deve fazer exame de sangue regularmente, procurar assistência médica em caso de perda de sangue ou na presença de sinais ou sintomas como palidez, palpitações, fraqueza, astenia e fadiga. Deve identificar a causa da anemia e tratar imediatamente com a ajuda de um hematologista, e nos casos mais críticos, pode ser necessária a transfusão sanguínea para que o paciente melhore e não haja piora da síndrome anêmica.
– Existem medidas para prevenir essas doenças? Há fatores de risco para leucemia? E para anemia?
Sim. No caso das anemias hereditárias, pode e deve ser feito o aconselhamento genético. Na anemia por deficiência de ferro, a mais comum em nosso meio, deve-se procurar imediatamente assistência médica em caso de sangramentos para evitar o desenvolvimento ou piora da anemia. Nas anemias por neoplasias hematológicas como a leucemia aguda, evitar situações de risco para o desenvolvimento dessas doenças como excesso de radiação, manipulação de produtos tóxicos como solventes, benzeno e outras substâncias químicas, além do tabagismo.
– Quem pode doar sangue nesse período? Que cuidados devem ser tomados?
Praticamente as mesmas pessoas que doavam sangue antes da pandemia pelo novo coronavírus: homens e mulheres em boas condições de saúde, com idade entre 16 e 69 anos. O voluntário precisa pesar mais de 50 kg. Há um intervalo entre as doações: para homens, o intervalo entre as doações é de 60 dias e para mulheres, 90 dias.
Pessoas que tiveram sintomas relacionados à COVID-19 devem aguardar o período de um mês após o término dos sintomas para poder doar sangue. Quem foi vacinado também precisa aguardar 30 dias.
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