Câncer e HIV: qual a relação entre essas duas doenças?

Por: Paola Alexandria Magalhães, Enfermeira e PhD em Ciências pela Universidade de São Paulo – EERP/USP

Dezembro é o mês que no qual a campanha “Dezembro Vermelho” ocorre no sentido da prevenção da infecção e do combate ao HIV/Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), na qual ações de conscientização são feitas a fim de que a população em geral seja informada sobre a doença, e o preconceito seja combatido.

Muito se é dito sobre o HIV/Aids no que se refere à prevenção, diagnóstico, sinais, sintomas, tratamento, qualidade de vida, saúde mental. No entanto, pouco se diz sobre outras doenças crônicas que podem manifestar-se no paciente portador de HIV. Por exemplo: qual o risco de um paciente portador de HIV desenvolver o câncer? Como seriam os tratamentos no caso de um paciente oncológico portador de HIV? São questões que devem ser abordadas a fim de difundir o conhecimento sobre o tema e informar tanto os pacientes portadores de HIV, como os pacientes oncológicos e a sociedade em geral.

É importante ressaltar que o HIV quando diagnosticado e tratado de forma precoce, morbidades que estão relacionadas com a determinadas doenças podem ser diminuídas. Dessa forma, realizar a sorologia para o HIV faz-se importante, e o “Dezembro Vermelho” incentiva essa ação de prevenção. 

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 50% das pessoas portadoras de HIV poderão ter o diagnóstico de câncer ao longo de suas vidas. Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Case Western Reserve University também apontou que pessoas soropositivas possuem chances maiores de serem diagnosticadas com câncer e também de falecerem por conta da doença. 

Mas por que essa agressividade é percebida neste caso? Porque o HIV interfere na capacidade do nosso organismo em combater as infecções devido ao fato de a infecção ocasionar o enfraquecimento do nosso sistema imunológico. Assim, pessoas portadoras desse vírus podem estar mais vulneráveis a outras infecções e também ao desenvolvimento do câncer. A imunossupressão pode aumentar a incidência de malignidade em portadores de HIV, bem como a coinfecção por vírus oncogênicos, além de fatores intrínsecos do organismo e fatores ambientais. 

De acordo com A. C. Camargo Cancer Center, os tipos de cânceres mais comuns em pacientes com HIV são: sarcoma de Kaposi (causado pelo herpesvírus humano-8), câncer de colo de útero, canal anal e pescoço (causado pelo papilimavírus humano), linfoma de Hodgkin e não-Hodgkin (causado pelo vírus Epstein-Barr), câncer de pulmão, câncer de pele câncer de fígado, e câncer de testículo.

Apesar do alto índice de morbidade relacionado à pacientes oncológicos portadores de HIV, é importante salientar que o diagnóstico precoce de HIV e o início da terapia antirretroviral pode reduzir significativamente a incidência do câncer nesta população (cerca de 64%, segundo estudos desenvolvidos). Podemos inferir que a prevenção do HIV bem como o diagnóstico e tratamentos precoces dessa infecção contribuem para a sobrevida desses pacientes. 

É importante citarmos que, no caso do paciente portador de HIV, o seguimento clínico é multidisciplinar, feito pela equipe oncológica e médico infectologista e deve ser mantido no pré, durante e pós tratamento do câncer. Lembrando que o tratamento com antirretrovirais muitas vezes é mantido e que isso deve ser levado em consideração para a escolha dos tratamentos oncológicos, pelo fato de alguns quimioterápicos interagirem com os antirretrovirais. 

Apesar de ser uma questão com gravidade significativa, o câncer no paciente portador de HIV tem probabilidade de cura. Assim, a mensagem que podemos deixar é: PREVINA-SE tanto do contágio do HIV como do surgimento do câncer, por meio sexo seguro e de hábitos de vida saudáveis, respectivamente.

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