São cerca de nove meses longe do Brasil, ajudando pessoas a realizarem o sonho de ver as Luzes do Norte
De setembro a abril o curitibano Marco Brotto vive as mais fortes emoções percorrendo todo o Ártico em busca das míticas luzes do Norte, como caçador de aurora boreal.
Noruega, Islândia, Finlândia, Rússia, Groenlândia e outros países dessa região do planeta são casa para Brotto, que em seus mais de dez anos de caça à aurora boreal já levou turistas em 123 expedições para ver o fenômeno de perto.
Toda sua dedicação à caçada faz Brotto deter a incrível marca de 100% de aproveitamento em todas as expedições. Ou seja, até hoje, as auroras boreais foram vistas em todas as caçadas conduzidas por ele.
Nesta entrevista, Marco Brotto conta um pouco da sua jornada na atividade:
Marco, como é passar tanto tempo fora do país, em lugares de culturas tão diferentes e manter-se conectado com seu público brasileiro?
Eu amo o que faço. A aurora boreal sempre foi um sonho para mim e, depois que criei esse vínculo com o fenômeno – tanto pessoal quanto profissional -, sinto como se a cada visualização eu realizasse novamente o mesmo sonho, com a mesma emoção e gratidão.
E levar pessoas comigo nas expedições potencializa todo esse sentimento, porque elas também estão realizando sonhos naquele momento. Só por isso, qualquer “sacrifício” envolvido já vale muito a pena.
Digo sacrifício entre aspas porque, para mim, estar em contato com outras culturas, gastronomias tão diferentes e mesmo com essa intensidade de neve é um privilégio que todo mundo deveria poder acessar. Parte do que move também é tornar isso mais acessível e para mais pessoas.
Quando afinal você vem para o Brasil? Como é quando está aqui?
São mais de dez anos nesta vida cheia de aventuras e eu adoro. Costumo estar no Brasil entre os meses de abril e agosto, desenhando as futuras expedições, estudando condições climáticas e atmosféricas, revisando as redes hoteleiras e gastronômicas dos países do Ártico, mapeando as melhores oportunidades de transporte, apresentando os detalhes das expedições para quem me procura e, claro, matando as saudades da família.
O que é mais difícil para você, ficar longe da Aurora Boreal ou do Brasil?
Essa pergunta é difícil! Sinto muita saudade da família, mas tenho total apoio de todos e estamos sempre conectados. Estar solteiro é algo que também ajuda, nesse caso, porque me permite ficar fora todo o tempo necessário para atender as expedições. E afeto podemos encontrar em todo lugar, não é mesmo? Sempre brinco que, se o que acontece em Vegas fica em Vegas, imagine o que acontece no Polo Norte [risos]. Quando estou lá, claro, estou sempre focado na caçada e no profissionalismo dessa entrega. Mas não necessariamente é uma vida solitária, então sou muito feliz e grato por isso.
Quais foram os momentos mais difíceis fora de casa?
Tenho inúmeras histórias desafiadoras, relacionadas ao frio intenso da região e a momentos em que as condições climáticas e logísticas colocaram à prova minha capacidade de localizar a aurora boreal com sucesso e segurança, mas todas essas histórias têm finais felizes. Acho que posso dizer, nesses dez anos de caçada, o momento mais complicado foi em casa, foi no Brasil: a pandemia de Covid-19.
Foram muitos meses de incertezas, de frustração, de medo, não apenas relacionados à doença e às estatísticas terríveis relacionadas a ela, mas também ao futuro. Naquele momento não sabíamos se um dia voltaríamos a ver e viver as coisas como antes. Não havia muito prognóstico que nos desse um horizonte.
Então, posso dizer que, se esse foi o momento mais difícil, um dos mais felizes foi poder voltar às caçadas, sem dúvida.
Qual a Aurora mais bonita que você já viu?
Essa pergunta é interessante, porque na mesma expedição já é difícil dizer qual foi a mais bonita, imagine em mais de mil noites vendo auroras. Todas têm um significado especial. Cada aurora para mim é uma conquista, uma conexão, uma realização.
A primeira vez que vi uma aurora boreal foi um marco. Foi tão emocionante e transformador que decidi que gostaria de ver mais vezes e, com o tempo, isso se tornou a minha missão de vida.
Já vi inúmeras auroras, mas recentemente tive a chance de rever uma aurora pulsante e foi incrível. Ela pulsa no ar como um coração e tem cores muito vívidas, coisa mais linda. Foi fenomenal para mim e para aqueles que me acompanhavam.
Outro momento raro e belo que já tive o privilégio de viver foi visualizar, numa mesma paisagem, uma aurora boreal e um vulcão em atividade, com sua coluna de fumaça deslumbrante sob um céu colorido.
Qual perfil de público costuma te acompanhar nas expedições?
Eu brinco que, embora nem todo mundo imagine isso, meu público é “gente como a gente”. De crianças a idosos, de viajantes experientes até aqueles de primeira viagem, de atletas a sedentários, de fãs do turismo aventureiro até fãs das viagens de luxo e conforto. O que todos eles têm em comum: o sonho de ver a aurora.
Casais e famílias têm sido cada vez mais frequentes. O sonho de uma pessoa da família se torna o sonho de todos. O encontro da família com as luzes é mágico, é acolhedor, existe uma conexão inexplicável. É aquela memória que se cria junto para nunca mais esquecer.
Destaco, também, o público feminino, que costuma ser maioria nas expedições e vai de jovens até as senhoras da melhor idade. Meus grupos incluem, com frequência, mulheres solteiras, divorciadas ou viúvas, que estão em busca de realizar esse sonho e se sentem extremamente seguras e acolhidas nas expedições.
Em qual país é melhor ver a Aurora?
Não existe um país melhor. Todos os países da faixa auroral são excelentes. Em geral, Canadá, Estados Unidos (Alaska), Finlândia, Islândia, Lapônia, Noruega, Suécia e os países nórdicos são os mais procurados. O que afeta a visualização são as condições climáticas, não o país onde você está, e todos eles incluem esse desafio do clima, por isso a importância de viajar com um guia especializado.
Crianças e idosos podem participar?
Podem! Crianças a partir de oito anos são bem-vindas, já recebi inúmeras e idosos também, sem limite de idade. Essa é uma viagem que não exige um grande preparo físico ou coisa do tipo, apenas roupas adequadas e outras orientações que são previamente repassadas – além de paciência e confiança no seu guia, até que a aurora se apresente no céu.
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