Farmacêutico Clínico Eduardo Lourenço da Silva e psicóloga Roberta Ledislau lecionam no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) e avaliam os cuidados acerca da depressão. Mês de setembro é o mês da conscientização acerca da depressão e ao suicídio, o Setembro Amarelo
Abordagens de pessoas comuns para com pacientes deprimidos são tão ineficientes quanto abordar um paciente asmático durante uma grave crise respiratória e dizer: “Ei, há tanto oxigênio no ar, anime-se, você vai conseguir se tentar”, é o que exemplifica o Farmacêutico Clínico Eduardo Lourenço da Silva, especialista em Bioética, mestre em Genética, doutor em Farmacologia e professor do curso de Farmácia do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), Instituição que pertence ao grupo Cruzeiro do Sul Educacional.
O profissional avalia que diante das pressões do dia a dia é comum o uso da automedicação por parte de muitos indivíduos, o que em um eventual quadro clínico de depressão não diagnosticado, por exemplo, pode agravar o problema. “Há ainda uma estigmatização de diversos problemas que temos sido expostos por conta de nossa rotina, e principalmente diante desse cenário de pandemia. A minha orientação é sempre buscar um profissional que esteja autorizado a realizar prescrição de medicamentos, pois a diferença entre o veneno e o medicamento é a dose”, alerta.
O docente do UDF explica que diante de sintomas como ansiedade e preocupação em excesso é preciso ter atenção, diagnóstico e tratamento prescrito. “Constantemente abordagens não cientificamente comprovadas, e isso para qualquer sentimento, como angústia, entre outros, são feitas pelo senso comum. É preciso buscar o diagnóstico adequado a partir de um profissional capacitado e habilitado para tal que indicará o melhor tratamento, que poderá envolver abordagens medicamentosas, psicoterapêuticas, dentre outras”, explica.
DEPRESSÃO E DIAGNÓSTICO
Para Roberta Ladislau, profissional que coordena o curso de Psicologia do UDF, a depressão é caracterizada pela presença de alguns dos sintomas como baixa autoestima, falta de perspectiva para o futuro, apatia, anedonia (não sente prazer para as coisas que sentia antes), alteração no sono (para mais ou para menos), alteração do apetite (para mais ou para menos), falta de energia, isolamento social, dificuldade de concentração e de memória.
“A ansiedade, por exemplo, pode se manifestar com taquicardia, suor nas mãos, tontura, dor de cabeça, sintomas gastrointestinais e pensamentos acelerados. Nem todo mundo apresenta todos os sintomas. Esses critérios diagnósticos são importantes para a identificação do problema e para considerar a necessidade de encaminhamento ao psiquiatra”, contextualiza.
A docente menciona, que é importante separar ainda tristeza de depressão, pois a tristeza é uma emoção que ocorre diante de situações tristes da vida e é completamente normal, enquanto a depressão é uma doença que envolve diversos sintomas, gera dor emocional e pode comprometer o funcionamento do indivíduo.
Roberta enfatiza ainda, que o momento atual de pandemia, por exemplo, é um grande fator de risco para o desenvolvimento de doenças que interfiram na saúde psicossocial do indivíduo e que diante do adoecimento emocional, o ideal é sempre procurar orientação profissional.
ANSIEDADE
“O pensamento ansioso tem o poder de fazer a pessoa ficar ruminando situações que já viveu e também de se questionar, especialmente, quanto ao futuro. As pessoas ansiosas sentem-se mais seguras quando seu ambiente é bem previsível, rotineiro e controlado. Quando a ansiedade é mais leve, as pessoas conseguem manejá-la com atividade física, técnicas de respiração e de relaxamento e organização da rotina. Contudo, quando as circunstâncias mudam, elas podem apresentar mais dificuldades pela falta de controle da situação. Neste caso, a ansiedade fica aguda e é importante avaliar se há presença de sintomas físicos. A psicoterapia será sempre indicada quando o paciente estiver em sofrimento e com dificuldades de manejar sua ansiedade, independente dos sintomas físicos”, explica a psicóloga.
TABUS SOCIAIS.
“Ainda temos a minimização do sofrimento psíquico na sociedade, mas acredito que tem existido muitos debates e muitas campanhas de sensibilização sobre a importância da saúde psicossocial. Isso é muito importante para conscientização da população. Sem isso, podemos agir de forma inadequada sem saber e ainda potencializar o sofrimento do outro”, analisa.
A psicóloga argumenta que a pandemia trouxe também muita discussão acerca desses temas, pois todos aqueles que estão seguindo as recomendações de biossegurança, como o isolamento social, e/ou tiveram perdas, de diversos tipos (perdas de entes queridos, de empregos, projetos, comprometimento dos aspectos socioeconômicos entre outros), ficaram mais vulneráveis psicologicamente.
“Como nós somos seres sociais, ficar em isolamento, ou melhor, em distanciamento social, é muito difícil, mas ainda necessário devido à pandemia. Na minha visão, uma forma muito importante de cuidado emocional é o autocuidado, que muitas vezes, envolve tanto a disciplina de manter uma rotina quanto perceber nossos limites e pedir ajuda. Quando conseguimos cuidar de nós mesmos e ficamos bem, mantemos a nossa saúde psicológica e, com isso, conseguimos acolher o outro também, nos tornando rede de proteção. E por fim, saliento que, por mais delicada que seja a situação atual em que vivemos, ela vai passar”, enfatiza.
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