Infectologista esclarece dúvidas sobre a AIDS e alerta: avanço do tratamento não pode afrouxar prevenção

Historicamente identificada em grandes centros, em 2019 foram notificados  novos casos de Aids em 70,6% dos municípios fluminenses

A Subsecretaria de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro informou que a capital e a Região Metropolitana são os locais com maior número de casos de Aids no Estado do Rio de Janeiro. Dos 1.596 casos registrados até meados de junho de 2019, cerca de 1.322 estão presentes na capital e região metropolitana, ficando o restante, 274, divididos nas demais regiões do Estado. Em 2017 foram registrados 4.452 casos de vírus HIV e em 2018 cerca de 4.230. Os números podem ser ainda maiores, pois há aqueles que têm o vírus e não sabem. No Brasil, esse é o caso de 135 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde. Em to do o mun do, estima-se que 9,4 milhões de pessoas não sabem que têm o HIV.

“Ainda é comum as pessoas terem medo de fazer o exame. E, como o vírus é silencioso, muitos convivem com ele sem saber, o que é grave, já que o diagnóstico precoce é fundamental para o êxito do tratamento”, analisa Celso Granato, infectologista e diretor Clínico do Grupo Fleury, detentor da marca Clínica Felippe Mattoso no Rio de Janeiro. Se por um lado há  conquistas como a queda de mortes associadas à Aids, principalmente em virtude da efetividade dos tratamentos disponíveis, e o fato de que 85% das pessoas em tratamento chegam a zerar a carga viral, ou seja, convivem com vírus HIV, mas não o transmitem; por outro, ainda é preciso alertar para que não haja um descuido da prevenção, o que pode acarre tar em n ovas infecções.

“A Aids ainda não tem cura e nem há vacina para ela. O tratamento, por sua vez, é para a vida toda e, por mais que hoje ele esteja mais personalizado e com menos efeitos colaterais, não pode ser desculpa para afrouxarmos a prevenção. A infecção pelo vírus HIV ainda é um grave problema de saúde pública, com sérios danos para a imunidade, podendo, em virtude das chamadas doenças oportunistas, levar ao óbito”, afirma Granato.

A seguir, o especialista esclarece outros pontos importantes para se avançar no combate à Aids.

Como posso me prevenir?
A camisinha é fundamental não só para evitar a transmissão do HIV como de outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis e hepatite. É recomendado não compartilhar seringas e outros aparelhos cortantes que têm contato com o sangue. Uma dúvida muito comum é sobre manicures e estúdios de tatuagens. Nesses casos, não é possível a transmissão do HIV, mas sim dos vírus B e C da Hepatite. Agulhas e seringas devem ser esterilizadas e descartáveis. Ter seu próprio kit para unhas é uma boa pedida e escolher um local que te inspire confiança, também.

E a Profilaxia Pré (PrEP) e Pós (Pep) exposição sexual? Como funcionam?
A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) previne o contágio por meio de um comprimido, disponível no SUS para alguns grupos de risco. Ele tem eficácia de 80% a 90%, mas não substitui o uso da camisinha, já que não protege contra as demais doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis, que vem aumentando no Brasil. Já a Profilaxia Pós-exposição sexual (Pep) funciona como uma espécie de pílula do dia seguinte, porém não deve ser usada de forma rotineira. De toda forma, vale frisar: a camisinha é a melhor opção para se evitar a Aids e todas as outras infecções sexualmente transmissíveis.

Todo portador do vírus HIV tem AIDS?
Nem sempre. Quem adquire o vírus não necessariamente vai desenvolver a Aids. O avanço de tratamentos também contribui para que portadores do vírus não desenvolvam a doença. Quanto mais precocemente o indivíduo saber que possuiu o HIV, mais chances ele tem de obter êxito em tratamentos, que são para a vida toda.

Como faço para saber se tenho o vírus HIV?
É preciso fazer um exame de sangue específico, chamado anti-HIV.

Os testes rápidos funcionam?
Os testes rápidos, feitos a partir de uma gota de sangue ou da saliva, funcionam, mas podem, mesmo que raramente, apresentar falhas. É preciso, também, ter atenção à janela imunológica, que é o período entre a infecção e a produção de anticorpos pelo organismo contra o HIV em quantidade suficiente para serem detectados.

Quais são os sintomas da Aids?
Passada a fase assintomática, os sintomas mais comuns são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento, o que pode ser confundido com outras enfermidades. O resultado do exame é fundamental para o diagnóstico e o tratamento.

O vírus HIV pode ser transmitido por beijo na boca, abraço, aperto de mão e banheiro compartilhado?
Não. O vírus só é transmitido por meio do contato sexual e pelo sangue. Objetos não perfurantes, como talheres e copos, ou mesmo o compartilhamento do vaso sanitário não apresentam riscos.

Mulheres soropositivas podem engravidar sem transmitir o vírus ao bebê? E o aleitamento, é permitido?
Sim, mulheres podem engravidar sem transmitir o vírus desde que a mãe seja medicada e siga o tratamento corretamente, acompanhada por um médico infectologista. É recomendado que a mulher esteja com boa imunidade e baixa carga viral. A criança também deve ser monitorada nos primeiros meses de vida. O aleitamento, no entanto, é proibido, já que o leite materno pode transmitir o vírus à criança.

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