O bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo, é um dos maiores loteamentos da América Latina, com 70 mil habitantes. Este mesmo número, corresponde ao indicativo de novos casos anuais de tuberculose no Brasil. A doença, que é um sério problema na saúde pública, anualmente mata mais de 4 mil pessoas em todo país. No município, em 2018, 641 novos casos foram contabilizados. Com ações de prevenção e com oferta de tratamento gratuito, atualmente o Programa de Tuberculose, da secretaria Municipal de Saúde vem mudando a realidade da população.
Como forma de descentralizar o acesso ao tratamento e prevenção, o Programa, que antes atendia nos polos Hélio Cruz e Washington Lopes, hoje atende também em mais três unidades: Polo Sanitário Paulo Marques Rangel, Clínica Municipal Zerbini e USF Ary Teixeira. Em todas essas unidades são realizados o atendimento, diagnóstico e acompanhamento dos casos, assim como encaminhamento para exames laboratoriais e a entrega de medicação.
“O Programa de tuberculose entende a importância dessa doença no município, e que ela tem grande impacto tanto na saúde da pessoa acometida quanto dos seus familiares. Ainda existe um grande preconceito para com as pessoas infectadas. A tentativa do programa é de que a gente tenha uma melhor avaliação e acompanhamento dessas pessoas com suspeita e diagnosticadas. Para isso, nós iniciamos um movimento de descentralização do atendimento, e passamos de duas para cinco unidades, além de sensibilizar a Atenção primária da saúde quanto a suspeita diagnóstica e como fazer o diagnóstico e encaminhar os pacientes para as unidades de tratamento. É importante que o trabalho seja feito de uma forma humanizada e com acolhimento, para que essas pessoas realizem o seu tratamento de forma regular e terminem obtendo a cura. Isso é de suma importância para termos um controle melhor da doença!”, destacou Ana Paula Barbosa, coordenadora do Programa.
De janeiro a novembro deste ano, 496 pessoas iniciaram o tratamento. Em São Gonçalo, a maior parte dos pacientes é composta por homens (67%), entre 15 e 59 anos. A tuberculose é uma doença de transmissão aérea, via inalação, durante a fala, espirro ou tosse das pessoas com tuberculose ativa. Ao contrário do que se pensa, a doença não se transmite por objetos compartilhados como talheres, copos, entre outros. Com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente, e em geral, após 15 dias se encontra muito reduzida, impossibilitando o paciente de infectar outras pessoas.
O tratamento dura, no mínimo, seis meses. Há três, o aposentado Milton Gonçalves, de 67 anos, já sente as mudanças consideráveis da medicação e acompanhamento que recebe no Polo Hélio Cruz, no bairro Alcântara. Atualmente, a unidade acompanha 30 pessoas em tratamento.
“Aqui eu fui muito bem acolhido e atendido. Quando descobri a doença, há três meses, eu mal conseguia andar ou comer. Pesava 67Kg e hoje estou com 87Kg. Antes do tratamento eu tossia muito, era uma tosse que não parava, hoje sou outra pessoa!”, relatou o morador da comunidade Nova Grécia, em Tribobó, que trabalha em um motel da região, um ambiente fechado, que torna a transmissão e o contágio ainda mais eficientes.
O uso abusivo de álcool e outras drogas, que ocasionam a baixa imunidade, também aumentam o risco de contrair a doença. É o caso do irmão da autônoma Eliane Frazão, de 58 anos, Fernando Frazão, de 60 anos, que possui transtornos mentais e é acompanhado pela equipe do Programa.
“Meu irmão bebia e fumava muito. Há 20 anos perdemos um irmão para a tuberculose, por isso hoje eu acompanho o Fernando no tratamento e fico feliz por ele estar melhorando. Não quero perder mais um irmão para essa doença!”, afirmou a autônoma, moradora do bairro Marambaia.
Segundo a pneumologista e tisiologista do Programa, Margarida Mota, o índice de casos vem aumentando consideravelmente em todo país.
“O abandono precoce ao tratamento pode aumentar ainda mais o risco de resistência ao antibiótico, assim como o risco de contaminação. Além de aumentar o tempo de tratamento, aumenta também o número de antibióticos, então seguir o tratamento é fundamental! O índice da doença está aumentando muito, e há diferentes fatores, como o uso abusivo de álcool e outras drogas, e também as condições de moradia”, explicou.
Destaque da pneumologista, um fator une as histórias dos aposentados Milton Gonçalves e Fernando Frazão, as condições sócioeconômicas e de habitação. Um estudo realizado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a incidência da tuberculose está diretamente ligada a superlotação em domicílios no Brasil, ligando os maiores riscos da doença e sua proliferação a pobreza e as desigualdades sociais. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil ocupa o 20º lugar no ranking dos países com maior número de casos de tuberculose.
A testagem de HIV no momento do diagnóstico e do início de tratamento da tuberculose é de grande importância, devido ao impacto da infecção, e maior possibilidade de óbito neste grupo populacional. Das testagens realizadas em 2018, cerca de 8% deram positivo para HIV.
Dentre os sintomas da doença estão a tosse por mais de suas semanas, febre, cansaço, dor no peito, falta de apetite e escarro com sangue em casos mais graves. Em caso de suspeita, a população deve buscar uma das unidades que disponibilizam o diagnóstico e tratamento. A tuberculose tem cura e o tratamento é gratuito através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Polo Hélio Cruz
Endereço: Rua Concórdia, Alcântara
Polo Paulo Marques Rangel
Endereço: Rua Gomes Teixeira, Av Central, Porto Do Rosa
Clínica Doutor Zerbini
Endereço: Av. Dr. Eugênio Borges, Arsenal
USF Ary Teixeira
Endereço: Rua General Savari, Jardim Bom Retiro
Polo Washington Luiz Lopes
Endereço: Rua Zé Garoto, 62, Zé Garoto
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