Autolesão atinge todas as faixas etárias e todas as classes sociais
Debruçado por mais de dois anos sobre a questão do aumento de casos de autolesão, o coordenador assistente do curso de Psicologia da Unigranrio, o professor universitário, com pós-doutorado em Psicologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Pedro Moacyr, 39 anos, desenvolveu uma proposta clínica específica para ajudar na intervenção dos casos de pessoas que praticam o ato de ferir-se por estarem em sofrimento emocional.
Segundo o professor universitário Pedro Moacyr, a autolesão atinge todas as faixas etárias e todas as classes sociais. “Mas existem estudos que defendem uma maior ocorrência no sexo feminino e no período da adolescência”, explica. O professor Moacyr diz que os tipos de autolesão que predominam são geralmente cortes com navalhas, facas, pontas de lápis.
Quanto à profundidade e o local do corpo onde são feitos os cortes varia muito, entretanto, é comum que as lesões ocorram nas pernas e braços. De acordo com o professor Moacyr, há uma crescente demanda para tratamento de casos em que os cortes aparecem como forma de dar conta de um sofrimento que não pôde ser colocado em palavras.
A proposta de tratamento psicanalítico para a autolesão é resultado da pesquisa de pós-doutorado na UFFRJ e se constitui em um apoio pela fala de quem vive a doença. “A ideia é oferecer um lugar de fala, apostando que por essa via as pessoas possam contornar seu sofrimento e elaborara formas de lidar com o mal-estar inerente à condição de ser humano”, comenta Moacyr.
O tratamento psicanalítico proposto pelo professor Moacyr trabalha com a forma de amar de cada um e com o sofrimento que essa forma acarreta. “Partimos da premissa de que há um mal-estar inerente ao ser humano, que não poderá ser extirpado ou ignorado, assim trabalha com formas de fazer algo com o mal-estar e o sofrimento que não seja paralisante para as vidas das pessoas em sofrimento psíquico”, analisa.
Vai que você pergunta se há algum tempo estabelecido para conquistar avanços no tratamento? Sabe qual é a resposta do professor? Confere! “Não há tempo preestabelecido, porque o tempo é próprio de cada paciente, é lógico e não cronológico. Ou seja, não utilizamos o tempo do relógio, que no limite é externo a nós e universal, mas aquele tempo de elaboração de cada pessoa”.
Questionado se autolesão pode ser considerada como um problema contemporâneo, o professor disse que sim. Para ele, ao almejar um ideal de corpo impossível de ser atingido, ao intensificar o culto à imagem, como vemos nas redes sociais, e a busca rápida por prazer a qualquer custo, acabam por reduzir os espaços de fala e trocas de experiências pessoais.
“Assim, o sofrimento se manifesta muito frequentemente pelo excesso, como o uso de drogas, os mais diversos vícios de produtos e consumo desenfreado, assim como as manifestações do sofrimento no corpo, que se torna palco de conflitos que acabam não sendo elaborados pela via da palavra”, avalia Moacyr.
Deixe o seu comentário