O número de mulheres vítimas de violência doméstica atendidas pelo Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), vinculado à Coordenadoria de Políticas para Mulheres da Prefeitura de Nova Iguaçu vem crescendo nos últimos dois anos. Entre janeiro e junho deste ano, o CEAM contabilizou 621 mulheres atendidas pela primeira vez na unidade, número 430% superior ao total de atendimentos realizados em todo o ano de 2017, que foi de 117. Na comparação ao primeiro semestre de 2018, o crescimento foi de 41,7% – de janeiro a junho do ano passado 436 mulheres procuraram o CEAM pela primeira vez para relatar casos de violência.
De acordo com Miriam Magali, da Coordenadoria de Políticas para Mulheres, o crescimento do número de atendimentos é consequência do fato das mulheres se sentirem acolhidas. “Fazemos o acolhimento dessas mulheres e escutamos os problemas. Algumas sofrem todos os tipos de agressão. É feito uma espécie de triagem e uma classificação de risco para saber a situação dela, se ela corre algum risco que envolva sua vida. Muitas chegam fragilizadas e necessitam logo de uma Medida Protetiva e até de um abrigamento. A decisão da vítima é sempre respeitada”, explica Miriam. Segundo ela, os maiores tipos de violência relatados pelas mulheres atendidas são a psicológica, seguida pela moral, física, patrimonial e sexual.
“Aqui me sinto protegida, assegurada, abraçada e orientada. Renovo minha força e fé para enfrentar o problema. Meu ex-marido sempre se mostrou agressivo. Tinha vergonha de contar para minha família e aguentei essa situação por vários anos”, relata J, de 37 anos, que buscou apoio jurídico, psicológico e moral no CEAM. Seu caso foi encaminhado ao Conselho Tutelar e à delegacia de polícia, onde foi feito um registro de maus tratos ao filho do casal, já que o ex-marido foi acusado de deixar o garoto sem comer e trancado no quarto. O CEAM ajudou a mulher a conquistar a guarda definitiva do menino e com o pedido de pensão alimentícia. O adolescente de 14 anos está passando por acompanhamento psicológico e a mulher participa de grupo de reflexão. A vítima está sob Medida Protetiva, ou seja, o agressor não pode se aproximar dela por 300 metros.
A Medida Protetiva é um mecanismo criado pela Lei Maria da Penha, que está completando esta semana 13 anos de sua aprovação pelo Congresso Nacional e sanção pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida visa coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, ordenando ao agressor cumprir certas condutas, como a proibição de se aproximar da vítima e a obrigação de manter uma distância delimitada do espaço de convivência dela. “Foram 16 anos de casamento, 15 deles sendo humilhada, xingada e agredida com empurrões, socos, enforcamentos e chutes. Ainda tenho medo do meu ex-marido, tinha crise de choro, mas agora aprendi a lutar pela minha vida e pelos meus direitos”, afirma J.
Outra vítima que buscou atendimento no CEAM foi a dona de casa S, de 52 anos. Ela chora ao lembrar sua maior tristeza: o dia em que foi agredida pelo ex-marido e um dos filhos. Ela ainda teve a casa destruída pelo antigo companheiro. Segundo ela, foram 28 anos de casamento jogados no lixo. Atualmente ela vive de auxílio do Bolsa Família e já deu entrada no pedido de pensão alimentícia com o auxílio do CEAM. “Antes eu só vivia sentada na escada de casa chorando, com depressão e hoje fico alegre quando venho ao CEAM. Ganho aquele amor que não tinha. Faço oficina de artesanato para ocupar minha mente”, afirmou S. Com auxílio da Coordenadoria, ela conseguiu o divórcio e o pagamento da pensão por parte do ex-marido.
A mulher, ao chegar ao CEAM, é atendida por uma acolhedora que faz o primeiro atendimento. Logo em seguida ela é direcionada à técnica de plantão, que define qual atendimento será necessário, que pode ser psicológico, social, jurídico, psicopedagógico e psicologia infantil (caso ela tenha filhos). Quinzenalmente, essas mulheres se reúnem para participar do grupo de reflexão e semanalmente, todas às quartas-feiras, é realizado uma oficina de artesanato.
O CEAM funciona na Coordenadoria de Políticas para Mulheres de Nova Iguaçu, que fica na Rua Terezinha Pinto, 297, Centro. Lá são oferecidos os seguintes serviços: atendimento com psicóloga, assistente social e advogada, acompanhamento das dificuldades de aprendizagem dos filhos das mulheres em situação de violência, além de atendimento psicológico e psicopedagógico e encontros quinzenais em grupos.
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