O Jornal do Estado do Rio procurou a psicóloga Renata Sims, referência em relacionamentos abusivos, para falar sobre jogos psicológicos, narcisismo e os impactos que essas dinâmicas podem ter na saúde mental e emocional das pessoas envolvidas. Dra. Renata compartilha informações valiosas sobre os sinais de alerta, estratégias de recuperação e os passos práticos para sair de um relacionamento como esse.
Confira abaixo a entrevista completa:
Jornal do Estado do Rio: Dra. Renata, quais são os sinais de alerta mais comuns em um relacionamento abusivo e como identificar os jogos psicológicos?
Psicóloga Renata Sims: Primeiro, é importante deixar claro que um relacionamento abusivo não se refere apenas à violência física, sexual ou patrimonial. Também pode abranger a violência psicológica ou moral, que pode acontecer de forma direta ou indireta, explícita ou velada. Muitas vítimas não reconhecem que estão sofrendo maus-tratos se não forem xingadas ou agredidas fisicamente e acabam tolerando comportamentos do parceiro que, na verdade, são inaceitáveis.
Às vezes, o único sinal visível é a forma como você se sente no relacionamento. Sua intuição lhe diz que há algo errado, e você fica o tempo todo pisando em ovos, se questionando, se culpando e sempre se justificando.
O abuso emocional pode ser pior do que a agressão física, devido aos jogos psicológicos da pessoa abusiva, que envolvem:
- Distorcer os fatos (“Gaslighting”);
- Fazer drama e se vitimizar para que VOCÊ sinta culpa ou “pena” dessa pessoa;
- Não assumir responsabilidade, te culpando de tudo;
- Fazer ameaças (por exemplo: de abandono, punição, privação financeira, etc);
- Controlar e monitorar constantemente seus passos;
- Humilhar, intimidar, coagir ou te perseguir;
- Querer te isolar (dos amigos e familiares);
- Diminuir sua capacidade e méritos, te desvalorizar;
- Difamar para te descredibilizar frente aos outros.
Tudo isso em intervalos intercalados com demonstrações de afeto e promessas de mudanças, a famosa tática do “bate/assopra” do ciclo de abuso, que deixam a maioria das vítimas confusas, magoadas, irritadas, envergonhadas, com remorso e, portanto, mais vulneráveis e dependentes emocionalmente.
Jornal do Estado do Rio: Como o narcisismo afeta os relacionamentos e quais são os comportamentos típicos de um parceiro narcisista?
Psicóloga Renata Sims: O narcisismo em si é uma característica comum a todos nós e está relacionado a uma fase da infância, em que a criança acredita ser “única e especial”, o centro do universo. Com o tempo, a criança vai se desenvolvendo e aprendendo a amar o outro também.
O problema é que nem todos conseguem sair dessa fase e permanecem no autofascínio a vida toda.
Nesse caso, o narcisismo se transforma em patologia, ou seja, passa de um estado normal para algo doentio.
O narcisismo patológico está relacionado ao excesso de apreço pela autoimagem e à sensação de importância e superioridade. Ou seja, não há ninguém mais importante do que a si próprio, por isso se sentem merecedores de deferências e privilégios.
Para quem tem transtorno de personalidade narcisista, ser adulado(a) é uma necessidade. É vital. Quando isso não acontece, a pessoa fica enfurecida.
Jornal do Estado do Rio: Como identificar um narcisista patológico?
Psicóloga Renata Sims: De acordo com o DSM-V, uma pessoa tem transtorno da personalidade narcisista quando cumpre ao menos 5 dos 9 critérios:
– Tem uma sensação grandiosa da própria importância (exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior);
– Fantasias de sucesso ilimitado;
– Acredita ser “especial” e único ;
– Demanda admiração excessiva;
– Apresenta um sentimento de possuir direitos especiais (espera receber um tratamento especial, sem uma justificativa específica);
– Explora as relações interpessoais (tira vantagem de outros para atingir os próprios fins);
– Falta de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros;
– É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam;
– Demonstra comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes
Observação: apenas esta lista não é suficiente para um diagnóstico, é necessária a avaliação de um psicólogo especializado ou psiquiatra.
Jornal do Estado do Rio: Quais são os impactos psicológicos à longo prazo que um relacionamento abusivo envolvendo jogos de manipulação e narcisismo, podem causar em uma pessoa?
Psicóloga Renata Sims: Os abusos psicológicos causam traumas nas vítimas porque o abuso vem de onde a pessoa menos espera (de alguém que ama e confia) e quando se está mais vulnerável.
O ciclo de abuso estressa emocional e mentalmente, e a pessoa somatiza.
O sistema nervoso da vítima fica em constante estado de alerta, como se a resposta “lutar ou fugir” nunca desligasse.
O abuso constante, intercalado e a longo prazo prejudica a saúde da pessoa, podendo desenvolver ansiedade, depressão, pânico, insônia, distúrbios de alimentação, fibromialgia, entre outras doenças.
Jornal do Estado do Rio: Como diferenciar comportamentos manipuladores e saudáveis em um relacionamento?
Psicóloga Renata Sims: Relacionamentos saudáveis também tem conflitos, pois cada um traz a sua bagagem de crenças, opiniões e ideias, que podem divergir ou serem diferentes na forma de pensar e agir, pois ambos tem qualidades e defeitos.
No entanto, cada um deve estar disposto a ouvir o outro, mesmo que não concordem, pois respeitam e aceitam as diferenças e o direito de SER de cada um. Diante das divergências, buscam encontrar juntos a solução para os seus problemas, não se trata de uma disputa por poder, pelo controle ou imposição – como em um relacionamento abusivo.
Não existe desequilíbrio nessa relação, pois o posicionamento de cada um tem o mesmo peso para ambos. Embora algumas vezes sejam necessários ajustes, nenhum dos dois sente como se estivesse se sacrificando apenas para dar o que o outro quer.
Em um relacionamento saudável, os dois são LIVRES para expor suas opiniões e expressar seus sentimentos sem medo de retaliação ou punição. Os dois se sentem a vontade para falar sobre suas necessidades, sabendo que serão OUVIDOS e não criticados, desvalorizados ou magoados. AMBOS tem permissão para ter a sua própria identidade e individualidade, encorajados em seu projetos e apoiados na convivência com outras pessoas, pois uma das bases desse relacionamento é a confiança mútua.
Além disso, cada um é responsável pelo seu próprio comportamento, e não culpa o outro, nem se justifica para agredir. Ou seja, não há espaço para pensamentos do tipo “estou com raiva e você vai pagar o pato por isso”. Não há ataques pessoais, xingamentos, humilhações, ameaças, manipulação, ou agressão física.
Como eu disse, casais passam por desentendimentos e momentos onde se sentem magoados e não compreendidos. É comum haver períodos em que um ou os dois se sentem mais desconectados do que o normal. No entanto, mesmo nesses momentos, você não precisa questionar se é valorizada e amada porque não tem dúvidas quanto a isso.
É criado um ambiente onde é seguro ser vulnerável e aberto pois a integridade das duas pessoas é preservada.
Jornal do Estado do Rio: Como funciona o ciclo de abuso?
Psicóloga Renata Sims: Um abusador não começa o relacionamento fazendo comentários críticos, debochando da sua cara ou te arremessando até o outro lado da sala. Obviamente, se ele (a) manifestasse esse tipo de comportamento cedo, você não teria problemas para cortar o vínculo.
Lentamente e com o tempo é que ele(a) faz um comentário ou uma piada sobre você aqui e ali, fazendo-a se sentir desconfortável, e vai monitorando a sua reação. Se você se defender e o confrontar, provavelmente ele(a) vai virar o jogo, alegando que você “é sensível demais”, que “não se pode nem brincar contigo”. Confusa(o), você começa a se questionar: “Será mesmo que eu exagerei?”
É assim que tudo começa. Você vai aos poucos abrindo mão de coisas que são importantes para você, por que acredita que assim resolve o problema. Seu(a) parceiro(a) fica feliz por que conseguiu o que queria, e você fica satisfeita(o) por ele estar contente contigo.
O problema é que é só você quem está sempre cedendo, é sempre você quem tem que pedir a permissão ou precisa da aprovação do outro para ir e vir, ou para evitar discussões.
Uma pessoa abusiva sente necessidade de se manter no CONTROLE o tempo todo, e quando percebe que não está no controle, ela explode.
O problema é que no ciclo do abuso, a pessoa vai testando os seus limites, vai escalonando as agressões e ainda te culpa dizendo que não seria abusivo ou agressivo se você não tivesse feito isso ou aquilo.
Quando a pessoa abusiva percebe que você está chegando perto de dar um basta, retrocede e começa a agir com gestos carinhosos, românticos, faz promessas que sabe que não vai cumprir, até você ceder e aos poucos esse ciclo abusivo se inicia e se repete novamente.
Aos poucos a pessoa abusiva vai fazendo você perder a autoconfiança, o respeito por si mesma(o) e a sua autoestima começa a despencar.
Jornal do Estado do Rio: Quais são os principais desafios enfrentados por pessoas que sofreram abuso emocional e manipulações, e como se recuperar?
Psicóloga Renata Sims: Um dos maiores desafios é o despertar e tomar consciência de que o que está vivendo é um relacionamento abusivo. É preciso entender que essas pessoas também tem qualidades e podem ser amorosas(os), divertidos e que a pessoa pode ser “um cara (ou garota) legal” e ao mesmo tempo manipular, intimidar, ameaçar ou punir caso não faça o que ele(a) quer.
Buscar informações sobre o assunto, ajuda a reconhecer o ciclo de abusivo e o “modus operandi” dessa pessoa.
Através do meu site: www.renatasims.com.br ou no meu Instagram: @renatasims.oficial a pessoa vai encontrar um link para fazer o “Programa Dona de si”, com o passo a passo de A a Z (com exercícios práticos) e com tudo o que você precisa saber para identificar e sair de um relacionamento abusivo.
Outra estratégia importante é o autoconhecimento através da terapia, assim a pessoa consegue reprocessar e ressignificar os traumas e curar suas feridas emocionais.
Além disso, é importante também desenvolver uma rede de apoio com amigos, familiares, médicos, psicólogos especializados, advogado e assistente social (se for o caso).
Jornal do Estado do Rio: Como é possível reconstruir a auto-estima e a confiança após ter sido vítima de um relacionamento abusivo com parceiro narcisista?
Psicóloga Renata Sims: Quando você vive em um ambiente onde seus limites são desrespeitados com freqüência, é comum perder seu senso de identidade, sua auto estima e a confiança em si mesma(o).
Para reconstruir, é preciso:
– Reaprender a se conectar com você mesma(o), resgatar a sua identidade: quem é, o que gosta, o que aceita e também quem não é, não gosta e não aceita;
– Aprender a dizer “não” e estabelecer limites para si e para os outros (acesse meu e-book 100% gratuito “Relacionamentos Abusivos nunca mais”, disponível no meu site ou na bio do Instagram);
– Validar sua intuição, suas experiências, a capacidade para se libertar dos abusos e superar.
Jornal do Estado do Rio: Quais são os riscos de permanecer em um relacionamento abusivo e como saber quando é hora de buscar ajuda profissional?
Psicóloga Renata Sims: Permanecer em um relacionamento abusivo faz com que a pessoa desenvolva traumas parecidos com aqueles causados por desastres naturais, assaltos, sequestros.
Nesse caso, os sintomas traumáticos não são causados por um único e exclusivo evento em si, mas pela carga energética envolvida em conflitos repetitivos, não resolvidos, que causam danos na psique e adoecem o organismo da vítima.
Jornal do Estado do Rio: Como as pessoas podem te encontrar para saber mais sobre relacionamentos, mentorias e atendimentos?
Psicóloga Renata Sims: Eu atendo com a Psicoterapia online, com agendamentos através do whatsapp 21 99599-1928.
Site: www.renatasims.com.br
Programa “Dona de si”: Link no site ou na bio do Instagram
E-book gratuito: “Relacionamentos abusivos nunca mais” (link no site ou na bio do Instagram)
Instagram: @renatasims.oficial
Youtube: @renatasims
Deixe o seu comentário