Governo se mobiliza e aciona autoridades espanholas diante de racismo contra Vini Jr.

Foto: Reuters

Presidente Lula e ministros exigem providências, cobram patrocinadores e medidas efetivas para frear onda de episódios racistas envolvendo o craque do Real Madrid

O Governo Federal vai acionar autoridades esportivas espanholas e pedir providências de patrocinadores e governo diante dos recorrentes episódios de racismo contra o brasileiro Vini Jr., que atua no Real Madrid, da Espanha. Neste domingo (21/5), o atacante foi mais uma vez vítima de cânticos racistas durante a partida de futebol entre o clube madrilenho e o Valencia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a coletiva em que fez um balanço dos trabalhos da comitiva nacional no encontro do G7, no Japão, neste domingo, com um gesto de solidariedade ao jogador que também representa a Seleção Brasileira.

“Não é possível que, quase no meio do século 21, a gente tenha o preconceito racial ganhando força em vários estádios de futebol. Não é justo que um menino pobre, que venceu na vida, que está se transformando possivelmente num dos melhores jogadores do mundo, seja ofendido em cada estádio que comparece”, disse Lula. “É importante que a FIFA, que a Liga Espanhola, que a liga de outros países, tome sérias providências porque não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem contra dos estádios de futebol”.

COMPROMISSO BILATERAL – A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, informou que o Brasil vai notificar oficialmente as autoridades espanholas e a La Liga, responsável pelo torneio de futebol profissional espanhol. “Repudiamos mais uma agressão racista contra o Vini Jr. Notificaremos autoridades espanholas e a La Liga. O Governo brasileiro não tolerará racismo nem aqui nem fora do Brasil! Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”, afirmou a ministra em seu perfil no Twitter.

Anielle lembrou que esteve no início do mês na Espanha e firmou, com a ministra equivalente de sua área, Irene Monteiro, um compromisso bilateral de combate ao racismo, à xenofobia e a formas correlatas de discriminação. Um dos destaques do acordo é exatamente a previsão de que os países “dediquem atenção especial à luta contra o racismo nas atividades esportivas”. A ministra, inclusive, concede coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira, 22/5, para detalhar novas ações em relação ao tema.

RESPONSABILIDADE COLETIVA – O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, cobrou uma postura mais firme de entidades esportivas, governos, da imprensa e de patrocinadores. Em especial depois que o presidente de La Liga, Javier Tebas, optou num primeiro instante não por se posicionar contra o ato de racismo do fim de semana, mas por acusar Vini Jr. de criticar e injuriar a entidade.

“Em vez de se solidarizar com Vini Júnior, o presidente de La Liga resolve atacar o atleta pelas redes sociais. Para além do destempero do cartola, seria o caso de se perguntar como as empresas que patrocinam a La Liga se posicionam”, afirmou o ministro.

Segundo Silvio Almeida, o racismo se tornou parte integrante do espetáculo esportivo, em que se pagam ingressos para odiar sem freios morais ou políticos. “A La Liga, as entidades europeias de futebol, a FIFA, os clubes, as empresas patrocinadoras, parte da imprensa e os governos estão sendo coniventes e se servindo do racismo. Devem, por isso, ser chamados à responsabilidade juntamente com os agressores diretos”, escreveu em seu perfil no Twitter.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, adotou o mesmo tom de exigir ações concretas da cadeia de produção que move o futebol espanhol. “Minha solidariedade ao jogador. Isso é deplorável, inaceitável e deve ter consequências. Espero que essas empresas façam alguma coisa de sério e efetivo sobre o inaceitável e reiterado racismo contra Vinicius Júnior”.

DESABAFO DE VINI – Depois da partida contra o Valencia, Vini Jr. fez um triste desabafo nas redes sociais, e recebeu o suporte de centenas de milhares de atletas, técnicos, dirigentes e torcedores. “Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”.

OUTRAS REPERCUSSÕES

Gianni Infantino, presidente da FIFA – “Toda a nossa solidariedade com Vinícius. Não há lugar para racismo no futebol ou na sociedade e a Fifa apoia todos os jogadores que o sofreram em sua própria carne”.

Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – “Até quando ainda vamos vivenciar, em pleno século XXI, episódios como o que acabamos de presenciar, mais uma vez, em La Liga? Até quando a humanidade ainda será apenas espectadora e cúmplice de atos cruéis de racismo? Até quando vamos precisar lembrar que é crime? Até quando vamos ter que lutar por atitudes concretas e eficazes dentro e fora dos campos? Não há alegria onde há racismo. Você tem todo o nosso carinho e de todos os brasileiros, @vinijr. Não só você, mas todos que sofreram e sofrem com essa doença mundial, que é o racismo. A cor da pele não pode mais incomodar”.

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