Para o combate ao câncer é preciso caminhar junto!

Foto: Reprodução

por André Deeke Sasse e Vinícius Conceição

O dia 8 de abril é lembrado no mundo todo como Dia Mundial de Combate ao Câncer. Como oncologistas clínicos, evitamos expressões como combate, luta, guerra ou batalha. Ao diagnosticar um paciente, buscamos alertá-lo sobre os caminhos que percorreremos juntos ao longo do tratamento da doença. Falamos da jornada, dos desafios, das conquistas, dos bons e maus momentos que virão pela frente. Nunca é simples ou fácil, mas sempre é possível.

Os números relacionados ao câncer são impressionantes, seja pela abrangência e aumento de casos, seja pelos altos custos envolvidos na busca de melhores tratamentos. Estima-se que o Brasil diagnosticará entre 2023 e 2025 mais de 700 mil casos da doença por ano. As regiões Sul e Sudeste concentram 70% da incidência. O câncer de pele não melanoma ainda é o mais comum no país, representando 31,3% da incidência, seguido pelos cânceres de mama (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%) e pulmão (4,2%). 

O câncer é uma das principais causas de morte em todo o mundo, sendo responsável por 10 milhões de óbitos em 2019. A incidência e a mortalidade estão aumentando globalmente, e esse crescimento reflete o envelhecimento da população mundial e a presença de fatores de risco, como tabagismo, consumo de álcool, alimentação pouco saudável, inatividade física e poluição do ar.

Um artigo publicado no Jama Oncology, em fevereiro de 2023, apresenta estimativas e projeções do custo econômico global de 29 tipos de câncer em 204 países e territórios de 2020 a 2050. O custo econômico global estimado do câncer de 2020 a 2050 é de US$ 25,2 trilhões, equivalente a um imposto anual de 0,55% sobre o produto interno bruto global. Os cinco tipos de câncer com maior custo econômico são o câncer de traqueia, brônquios e pulmão (15,4%); câncer de cólon e reto (10,9%); câncer de mama (7,7%); câncer de fígado (6,5%); e leucemia (6,3%). A China e os EUA enfrentam os maiores custos econômicos do câncer em termos absolutos, respondendo por 24,1% e 20,8% da carga global total, respectivamente.

Embora 75,1% das mortes por câncer ocorram em países de baixa e média renda, sua participação no custo econômico do câncer é menor, em 49,5%. Isso significa que o custo econômico do câncer é distribuído de forma desigual entre os tipos da doença, países e regiões. No Brasil, os encargos macroeconômicos anuais de 2020 a 2050 representaram 0,26% do PIB. A perda de produtividade, relacionada ao capital humano, representa 0,24%, do PIB total de 2020 a 2050.

O estudo apresentado no JAMA reforça que investir em intervenções eficazes de saúde pública para reduzir os gastos com câncer é essencial para proteger a saúde global e o bem-estar econômico. O que o estudo chama de intervenção, nós, do Grupo SOnHe, chamamos de filosofia. Como oncologistas clínicos, acreditamos que a relação médico-paciente seja fundamental tanto na prevenção quanto no tratamento do câncer.  Precisamos de investimento em pesquisa médica para reduzir a incidência, prevalência e mortalidade do câncer, bem como em pesquisa para identificar intervenções de saúde pública com boa relação custo-benefício. Devemos fortalecer a atenção primária e facilitar a inclusão de programas de rastreamento de câncer com boa relação custo-benefício nos pacotes de benefícios do seguro e adotar formas inovadoras de prestação de cuidados de saúde. E essas devem ser as nossas lutas!

André Sasse é oncologista e CEO do Grupo SOnHe. Formado em Medicina e com residência em Oncologia Clínica pela Unicamp. É diretor médico do Radium e coordenador da oncologia dos Hospitais Madre Theodora, Santa Tereza e PUC-Campinas.

Vinícius Conceição é oncologista e sócio do Grupo SOnHe. Formado em Medicina e com residência em Oncologia Clínica pela Unicamp. Tem título de especialista em Cancerologia e Oncologia Clínica pela Sociedade Brasileira de Oncologia.

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