O Jornal do Estado do Rio conversou com a Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães, Enfermeira graduada pela EERP-USP, PhD em Ciências pela EERP-USP e Pesquisadora há 10 anos na área de Oncologia e Saúde da Mulher.
Veja a seguir os fatores abordados:
Jornal do Estado do Rio: Os fatores genéticos podem aumentar o risco de câncer de mama?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: Sim, fatores genéticos e hereditários podem aumentar o risco de desenvolver o câncer de mama. Estes fatores estão relacionados à presença de mutações em alguns tipos de genes, em especial os genes BRCA1 e BRCA2. Mulheres que possuem casos de câncer de mama em parentes de primeiro grau e/ou pelo menos um caso de câncer de ovário, ou câncer de mama em homem também em parente de primeiro grau, podem ter uma maior predisposição genética para desenvolver o câncer de mama. É importante ressaltar que a questão genética representa de 5 a 10% dos casos de câncer de mama.
Jornal do Estado do Rio: Por que uma mulher deve fazer mamografia?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: De acordo com as diretrizes para Detecção Precoce do Câncer de Mama, instituído pelo Ministério da Saúde Brasileiro, ações de Detecção Precoce envolvem dois fatores: ações de Diagnóstico Precoce (identificação precoce de indivíduos sintomáticos) e Rastreamento (identificação precoce de indivíduos assintomáticos, ou seja, que não apresentaram nenhum sintoma). A mamografia entra como exame radiológico recomendado pelo Ministério da Saúde para rastreamento do câncer de mama. É como um raio X das mamas e o aparelho se chama mamógrafo; este exame é capaz de detectar o câncer em seus estágios iniciais, ou seja, é capaz de mostrar lesões em fase inicial, muito pequenas (de milímetros), antes mesmo de elas serem palpáveis. É um exame simples, que leva em torno de 30 minutos para ser realizado. A mama é comprimida de forma a fornecer melhores imagens e geralmente envolve duas incidências de cada mama, uma anteroposterior e a outra latero-lateral. Em pacientes com próteses mamárias é utilizada uma técnica específica para observar toda a mama (Manobra de Eklund). O desconforto provocado é discreto e suportável. A mamografia fornece informações sobre se serão necessários outros exames complementares para a detecção do câncer de mama, como a biópsia por exemplo.
Jornal do Estado do Rio: Ela deve ser feita em qual idade e de quanto em quanto tempo?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: A recomendação do Ministério da Saúde é que mulheres entre 50 e 69 anos façam o exame de mamografia a cada dois anos (bienal), caso o primeiro exame não tenha dado nenhum tipo de alteração suspeita. No entanto, algumas sociedades médicas como a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomendam que as mulheres se submetam ao exame anualmente, a partir dos 40 até os 74 anos de idade. Temos que levar em consideração, enquanto profissionais de saúde, os fatores de risco que envolvem essa mulher, lembrando que mulheres que tiveram parentes de primeiro grau com a doença, segundo o Ministério da Saúde, devem começar o rastreamento a partir dos 35 anos, por serem consideradas grupo de risco para o desenvolvimento do câncer de mama.
Jornal do Estado do Rio: Porque a o obesidade é um fator de risco para o câncer de mama?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: Segundo a Organização Mundial da Saúde, a obesidade contribui para maior prevalência de tipos de cânceres como: câncer de mama, de endométrio, de rim, de fígado, de próstata, de bexiga, de esôfago, e de câncer colorretal. Em um estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), foi demonstrado que o Brasil terá cerca de 29 mil casos de cânceres relacionados à obesidade em 2025. Especialistas explicam que a relação entre obesidade e o câncer é devido a alguns fatores como: inflamação e aumento da secreção de substâncias pró-inflamatórias que atuam em nível celular, causando uma inflamação crônica nas células, e o mecanismo de defesa gerado pode atacar também células saudáveis o que contribui para um crescimento celular desordenado. Outros fatores envolvidos também são: desregulação da morte das células, aumento de vasos sanguíneos, excesso de gordura abdominal, mudança na microbiota intestinal e maior secreção de insulina, lembrando que todos esses processos acabam gerando respostas inflamatórias crônicas. Algo muito importante a ser discutido sobre a obesidade, no caso do câncer de mama, é que ela eleva os níveis de hormônios sexuais, como o estrogênio. Este hormônio está associado a tipos de câncer de mama que são hormônio dependentes.
Jornal do Estado do Rio: Não amamentar é um fator de risco para o câncer de mama?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: Esta questão vem sendo muito discutida. É importante dizer que NÃO ter amamentado NÃO é fator de risco para câncer de mama. AMAMENTAR o máximo de tempo possível é um fator de PROTEÇÃO para o câncer de mama. Dessa forma, amamentar é um fator de proteção para o câncer de mama, e o não aleitamento promove a perda deste fator de proteção, o que é diferente de significar fator de risco.
Jornal do Estado do Rio: Por que o câncer de mama afeta tanto a autoestima da mulher?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: Nossa sociedade apresenta uma grande preocupação com relação à imagem e à estética, visto que a indústria cultural valoriza o corpo esbelto, magro, belo e simétrico. A beleza e a juventude tornaram-se um imperativo, ou seja, uma qualidade fundamental que pode gerar insatisfação se esses ideais de beleza não forem alcançados, principalmente quando se trata de adolescentes e mulheres.
Essa insatisfação com a imagem corporal pode se tornar significativa a ponto de desencadear transtornos psicológicos, principalmente quando se trata da modificação do corpo devido à alguma doença. Neste sentido, adentramos na esfera que abarca o câncer de mama e seus tratamentos, pois estes vinculam imediatamente à ideia de uma terapêutica radical e mutiladora, e isso tudo se deve ao fato de as mamas terem um significado relevante na sociedade, sendo consideradas um símbolo do feminino e estando relacionadas à sexualidade, à fertilidade e à maternidade.
Além disso, os sintomas causados por alguns tratamentos podem desencadear queda do cabelo e pelos (alopecia), fadiga, ganho de peso, efeitos na pele, menopausa induzida, diminuição da lubrificação vaginal, redução do desejo sexual e dor durante a relação sexual. Tais sintomas repercutem na vida funcional e produtiva da mulher, afetando significativamente sua autoestima.
Jornal do Estado do Rio: Homens podem ter câncer de mama?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: Sim, homens podem ter câncer de mama. Apesar de terem poucas glândulas mamárias em comparação às mulheres, os homens também têm risco de desenvolver o câncer de mama.
Há alguns fatores que podem aumentar esse risco como: níveis hormonais em resposta aos hormônios femininos, como o estrogênio; mutações genéticas adquiridas, visto que a maioria das mutações do DNA relacionadas ao câncer de mama em homens não são hereditárias; e mutações genéticas hereditárias, principalmente no gene BRCA2.
O risco de câncer de mama em homens com gene BRCA2 é cerca de 6% maior do que para outros homens sem alteração nesse gene. No geral, 1 homem para cada 100 mulheres tem o risco em desenvolver o câncer de mama.
Jornal do Estado do Rio: Quais os sintomas do câncer de mama?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: O câncer da mama em estágio inicial normalmente é assintomático, ou seja, nenhum sintoma ou sinal é percebido. Neste caso, é normalmente descoberto em exames como mamografia, ultrassom ou ressonância magnética. Quando o câncer de mama apresenta algum sinal ou sintomas é porque provavelmente já existe algum nódulo ou tumor com mais de um centímetro.
O Ministério da Saúde recomenda que os seguintes sinais e sintomas sejam considerados como de referência urgente para diagnóstico de um possível câncer mamário: qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos; nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual; nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade; descarga papilar sanguinolenta unilateral (saída de alguma secreção do mamilo); lesão da pele da mama que não responde a tratamentos tópicos; homens com mais de 50 anos com nódulo palpável unilateral; aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema (inchaço), vermelhidão e calor; pele com aspecto de casca de laranja; retração na pele da mama; mudança no formato do mamilo e assimetria mamária.
Temos que nos prevenir e conscientizarmo-nos sobre a importância da prevenção e da promoção da saúde.
Jornal do Estado do Rio: O que se deve fazer para prevenir?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, as estratégias de prevenção envolvem: hábitos de vida saudável – como alimentação balanceada rica em legumes, frutas, vegetais, castanhas, cereais integrais, carnes magras; manter o peso adequado para o seu biótipo; praticar atividades físicas; evitar o consumo de bebidas alcoólicas e tabaco; ter atividades de lazer e prezar pela qualidade de vida; desenvolver estratégias saudáveis que diminuam a carga de estresse; e ter consultas periódicas no serviço de saúde.
Jornal do Estado do Rio: Quais os fatores de risco mais importantes na causa do câncer de mama?
Profa. Dra. Paola Alexandria Magalhães: Essa é uma pergunta também muito importante. Ser do sexo feminino aumenta a chance de desenvolver o câncer de mama em 100 a 150 vezes. É importante ressaltar que o surgimento do câncer de mama pode ser multifatorial, ou seja, pode depender de vários fatores.
Apesar de não existirem medidas práticas específicas para prevenção primária do câncer de mama, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer outros fatores de risco para o câncer de mama são: avanço da idade, menarca precoce (ter menstruado antes dos 12 anos), menopausa tardia (ter tido a última menstruação após 55 anos), ter a primeira gestação após 30 anos ou nuliparidade (não ter tido filhos), história de doença mamária benigna, história familiar de câncer de mama/ovário, casos de câncer de mama na família (em pessoas com menos de 50 anos idade), mutações genéticas (nos genes BRCA1 e BRCA2), obesidade e sobrepeso (principalmente na pós-menopausa), tabagismo (aumenta 16% a chance de desenvolver o câncer de mama após menopausa), alcoolismo (é a causa de cerca de 4% dos cânceres de mama), sedentarismo e inatividade física, e exposição frequente à radiações ionizantes (Raio X).
Temos que estar atentos!
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